Conheci o António Borges quando aluno do Mestrado de Economia da Nova. Fez parte do júri que discutiu a minha dissertação “A elasticidade procura-preço dos combustíveis em Portugal”, cujo orientador foi Diogo Lucena. Aprovado com Muito Bom na tese, tinha o caminho aberto em 1983 para o doutoramento em Economia. António Borges foi um dos professores que me desafiou a fazê-lo. Já antes no IST, tinha sido convidado para o doutoramento quer em Eletrotecnia Teórica (o que não era a minha vocação) quer em Produção e Transporte de Eletricidade (PTE). Hoje, aos 67 anos, se alguma coisa lamento em termos académicos foi não ter feito o doutoramento em PTE no IST com o meu amigo Sucena de Paiva, ou na Nova, em Economia, com essa plêiade de professores que então conheci. Depois no Governo, convidei António Borges para administrador não executivo da Petrogal e, ao sair do Governo, tive o prazer de trabalhar com ele na Administração da Cimpor, presidida por Sousa Gomes, no período da transformação da empresa numa multinacional portuguesa. Na formação do governo Santana, o Expresso noticiava que Eduardo Catroga, António Borges e eu próprio éramos os possíveis ministros das Finanças. António Borges teve a extrema gentileza de me telefonar a dizer: “Luís, se for você o escolhido, a pasta estará muito bem entregue.” Vindo de um dos mais brilhantes economistas e professores da sua geração, foi um elogio que nunca mais esqueci. Dos cargos internacionais que teve na Goldman Sachs, no FMI e no INSEAD, foi aqui que António Borges teve tempo e oportunidade de deixar a sua inconfundível marca como brilhante professor, gestor e homem de ação. Começou aí como professor associado de Economia, em 1986, e tornou-se o Dean Académico para o MBA, altura em que apareceu na capa da Fortune. Saído do Banco de Portugal, regressou ao INSEAD, onde se tornou Dean e criou o campo de Singapura sob o conceito “Uma Escola, Dois Campus”, tendo ainda lançado uma bem sucedida campanha de fund raising onde obteve 120 milhões de euros. O comunicado do INSEAD da sua morte é bem revelador da sua brilhantíssima passagem pela escola. Sendo uma das mais brilhantes mentes da sua geração, com uma capacidade oratória e de exposição invulgares, parecia que tinha todas as condições para o sucesso na política, coisa de que ele gostava. Contudo, a sua personalidade politicamente incorreta, dizendo sempre o que pensava, lutando pelas suas ideias num estilo demasiado liberal e com forte pendor anglo-saxónico para um ecossistema habituado ao paizinho Estado e com uma maioria sociológica de esquerda, não lhe permitiria aí vingar… Costumo explicar isto em termos de segmentação bancária: Private Banking (PB), Afluentes e Retalho (mass-market). António Borges era um exemplo típico de quem estava particularmente à vontade para vender o produto político-financeiro no PB, mas com a maioria sociológica de esquerda que temos em Portugal tinha dificuldades em chegar aos outros segmentos… No meu tempo de governo, eu conseguia chegar aos afluentes (empresários das PME), mas depois quem chegava ao povo (retalho) eram Cavaco Silva, Fernando Nogueira e Marques Mendes…