Vários têm sido os debates sobre o futuro do setor da Saúde e os desafios que enfrenta num clima de dificuldade financeira e de dúvida sobre a sustentabilidade do SNS. Todos desejamos que o SNS seja sustentável, queremos ter mais poder de escolha, ter acesso às tecnologias e inovação, que o sistema seja mais eficiente e económico. Mesmo com as dúvidas sobre o futuro, é pouco provável que na Europa, na rica e na pobre, um país se abstenha de ter um serviço público universal de saúde – num modelo “beveridgiano” ou “bismarckiano” – por força da nossa organização social e moral, da nossa história e do nosso desenvolvimento civilizacional.A saúde também é economia, onde os recursos são escassos e há que otimizá-los. Temos o dever de definir prioridades onde a sociedade quer investir o que produz. Nesse exercício tenho a certeza de que a saúde ocupa um lugar cimeiro pelas evidentes mais-valias na garantia do desenvolvimento humano e manutenção da capacidade produtiva de um país.Partindo destes princípios que sustentam a manutenção do SNS, parece-me mais interessante pensar quais devem ser as nossas preocupações. Em primeiro lugar, aponto a importância de melhorar a qualidade sem prejudicar a quantidade. Nos últimos anos, assistimos a investimentos estratégicos ao nível dos cuidados primários, mas o mesmo não se pode dizer da atividade hospitalar. As quebras significativas do investimento hospitalar sem qualquer incentivo à produção atingiram fortemente empresas fornecedoras de medicamentos e tecnologias médicas, peças fundamentais para o tratamento e prevenção da doença. Por esse facto, seria de esperar – por força dos ganhos de eficiência – um aumento no número de doentes com acesso às mesmas, porém, verificou-se exatamente o contrário. É fundamental reverter esta situação em prol da longevidade e da qualidade de vida dos cidadãos.Estando praticamente esgotadas as formas de redução administrativa dos preços dos produtos de saúde, destaco a importância do equilíbrio da eficiência dos recursos financeiros e humanos, de forma a rentabilizar a capacidade instalada dos hospitais. Exigem-se métodos de gestão que levem à redução de desperdícios de tempo e recursos. Os blocos operatórios deverão maximizar a sua atividade e a cirurgia ambulatória deverá ser ainda mais incentivada, aproximando o país dos níveis de cobertura europeus.O Estado, entre a regulamentação, o financiamento e a prestação de cuidados de saúde, deverá estar mais focado nos dois primeiros planos. Para tal, temos que nos focar no custo por tratamento/doente e deixar que o procurement se foque apenas em cada produto. Os hospitais devem partilhar o risco com os fornecedores de tecnologia, medindo os outcomes com base em acordos de longo prazo, promovendo a tão necessária accountability não só para o prestador dos cuidados, mas também para os parceiros que fornecem as tecnologias.Acredito que estas medidas trarão maior sustentabilidade ao sistema de saúde, promovendo a sua manutenção e desenvolvimento, cumprindo expetativas dos doentes e da sociedade no seu todo.