O FUTURO DA SAÚDE DEPENDE DE CADA UM DE NÓS
Recentemente foi apresentado o relatório da Fundação Gulbenkian “Um Futuro para a Saúde: todos temos um papel a desempenhar”, elaborado por uma comissão liderada pelo Lorde Nigel Crisp (grande defensor dos SNS) e com o envolvimento de alguns especialistas europeus de diferentes áreas, entre os quais algumas reconhecidas individualidades portuguesas. Um dos aspetos centrais neste relatório é o peso das doenças crónicas em Portugal, responsáveis por mais de 80% das mortes no nosso país. Este desafio de prevenir as doenças crónicas é também um dos focos de ação da Organização Mundial de Saúde, que este verão apresentou novos indicadores que dão conta de que a maioria dos países desenvolvidos – entre os quais Portugal – continua sem soluções para reduzir o seu impacto na mortalidade, na morbilidade e nos recursos despendidos. O relatório da Fundação Gulbenkian apresenta um estilo diferente ao que estamos habituados, quando sugere a implementação de ações concretas para atingir objetivos mensuráveis: a) reduzir a taxa de infeção hospitalar em 10 instituições para metade, apenas em três anos, b) reduzir a incidência de novos doentes com diabetes em 50 mil, durante os próximos cinco anos, ou seja passar de 50 mil para 40 mil por ano e c) promover Portugal e o seu SNS através do excelente resultado que apresentamos na baixíssima mortalidade infantil. Para tal são necessários modelos criativos que só podem advir de uma visão partilhada da saúde: mais colaborações entre o SNS, a indústria farmacêutica, a indústria dos dispositivos médicos, uma participação ativa dos profissionais de saúde e dos cidadãos, das instituições públicas e privadas, de todos nós. Com bastante criatividade, a capa deste relatório tem um espelho, ou seja, para quem o lê, sente a responsabilidade de participar numa estratégia conjunta pelo Futuro da Saúde dos Portugueses, seguindo o lema de que todos temos um papel a desempenhar. Eu li e, como o todo não é todo sem a parte de cada um de nós, acredito que é altura de agir, apontando por isso dois tópicos que me parecem importantes para a prevenção das doenças crónicas. Com o envelhecimento das populações, as doenças crónicas passaram a incidir em conjunto nas mesmas pessoas ou, pela sua complexidade, estão associadas a outras complicações que devem ser encaradas de uma forma integrada. Está provado que o approach integrado é muito mais eficaz, eficiente (mais económico) e confortável para os doentes e profissionais. Por outro lado, cada vez mais os doentes têm que participar na prevenção, no diagnóstico e no tratamento. Para tal precisam de informação, de apps, de empowerment. O SNS, além do que tem feito nesta área, deve-se associar à sociedade civil em campanhas de prevenção e informação, feitas por associações médicas, juntamente com empresas (não necessariamente somente do setor da saúde) e algumas instituições de saúde. São os cidadãos que precisam de saúde e não somente os doentes que precisam de a recuperar. Desta forma, o SNS tem que se centrar nas pessoas todas, nas que estão doentes e nas que ainda não estão doentes, com campanhas de prevenção e sensibilização realmente eficazes, de forma a diminuir a incidência das doenças crónicas (as que mais consomem os nossos recursos). Cada um de nós tem que assumir as suas responsabilidades, intervindo com projetos e a execução de ideias concretas, contribuindo para o Futuro da Saúde dos Portugueses.