LUÍS LOPES PEREIRA

21SAÚDE PARA AS EXPORTAÇÕES

Muito se tem falado ultimamente da internacionalização dos cuidados de saúde, enquanto oportunidade para oferecer serviços à comunidade internacional e de forma a rentabilizar as unidades hospitalares e a capacidade/qualidade de prestação de cuidados. De facto, temos um SNS ferido, mas (ainda) não moribundo, temos instalações sanitárias à altura e ótimos profissionais de saúde. Mas enquanto esse mercado de serviços abertos ao exterior se desenvolve, sabendo que essa atividade pode ser considerada como exportação, existe já uma realidade inequívoca: a exportação de bens de saúde ou seja tecnologias médicas e medicamentos. Seguindo uma análise recente do Healthcluster Portugal que reuniu os CAE correspondentes a estas atividades, podemos concluir que, em 2013, este setor exportou mais de mil milhões de euros, representando já cerca de 5% do total das exportações portuguesas. Também concluímos que em apenas quatro anos essas exportações cresceram 47 por cento! Embora a maior fatia dessas exportações continue a ser de medicamentos, é de realçar a importância que as tecnologias médicas (dispositivos médicos e de diagnóstico) assumem nas exportações deste setor, representando já quase 30% das mesmas, tendo vindo a crescer nessa representatividade e assumindo uma performance notável de perto de 70% de crescimento entre 2010 e 2013. Temos certamente aqui uma oportunidade no nosso país que deve ser explorada e que tem ainda grande potencial de crescimento. Para tal, aponto apenas duas sugestões que acredito ajudarem a aumentar a nossa competitividade neste setor. Na área dos produtos farmacêuticos, penso ser fundamental incrementar o associativismo dos produtores nacionais, separando a concorrência no mercado concreto dos medicamentos do mercado da produção, onde todos podem produzir para todos. Por outras palavras, os produtores devem partilhar de uma forma eficaz o tecido produtivo nacional, para que cada um se especialize na produção de um grupo de produtos específico, ganhando assim capacidade produtiva (para conquistar mais mercados e aumentar a rapidez do fornecimento), maior eficiência (com mais qualidade e menores custos) e melhor margem de lucro. Creio que este processo é comum nos países desenvolvidos, mas ainda não foi generalizado em Portugal.

No setor dos dispositivos/tecnologias médicas, a maior parte das exportações vem provavelmente dos têxteis aplicados na saúde. Mas sabemos que além dos têxteis, dos plásticos e dos vidros ligados a tecnologias de saúde, que exportamos igualmente bem, há outras realidades que ainda desconhecemos, de forte potencial nacional, como por exemplo as aplicações (apps se preferirem) na área da saúde e outras funcionalidades/programas do grande mercado que se tornou já o e-health. Atualmente temos multinacionais portuguesas na área do software que exportam em várias áreas, embora esses valores ainda não estejam contemplados na análise de exportações de bens de saúde do Health Cluster Portugal. Mas num mundo em que a longevidade vai aumentando e em que as doenças crónicas requerem mais e melhor monitorização dos doentes à distância e dentro das instituições de saúde, este mercado tende a aumentar exponencialmente. E neste ponto, acredito que o “bem” Saúde produzido em Portugal pode vir a ter um papel central no mercado global e um forte peso na balança das exportações nacionais.