COMO TRUMP PODE INFLUENCIAR A SAÚDE NA EUROPA
O programa político prometido por Donald Trump para o seu segundo mandato poderá ter implicações significativas na saúde pública na Europa. Uma das decisões mais impactantes será a retirada dos Estados Unidos da América (EUA) da Organização Mundial da Saúde (OMS) que enfraquecerá a cooperação internacional nesta área, afetando negativamente a Europa, pois esta depende da OMS para coordenar respostas a crises sanitárias globais. A liderança global e a contribuição financeira dos EUA na área da Saúde têm sido um pilar para iniciativas internacionais. Espera-se que a administração Trump adote uma postura mais isolacionista. A Europa enfrenta assim o desafio de preencher esse vazio e de encontrar recursos que substituam a forte participação americana nos programas internacionais de saúde. Alguns especialistas sugerem que os europeus podem não estar preparados para assumir um papel de liderança na saúde mundial, o que pode comprometer a eficácia de programas de combate a pandemias e outras emergências sanitárias.
A nomeação de Robert F. Kennedy Jr., conhecido pelas suas posições antivacina, para liderar o departamento Health and Human Services (HHS) dos EUA, é particularmente crítica, pois poderá significar o corte dos programas internos de prestação e prevenção de saúde, mas também dos programas de estimulação económica de áreas tão fundamentais como a de Investigação e Desenvolvimento de novas tecnologias de saúde. Lawrence Gostin, diretor do Instituto O’Neill para Direito Nacional e Global da Saúde da Universidade de Georgetown, alerta que essa escolha pode enfraquecer programas de vacinação e comprometer a saúde pública global.
Mas toda esta inversão de política de saúde pública americana pode-se tornar numa oportunidade económica e de influência internacional para a Europa, pois esta poderá atrair para o seu território a investigação e a produção na área das vacinas e de outras soluções de prevenção sanitária que que até agora têm sido desenvolvidas nos EUA.
Elon Musk foi contratado por Trump para a reforma administrativa, que se traduz em cortar 2 triliões de dólares do orçamento federal. Segundo o próprio presidente eleito, este corte afetará todas as políticas sociais incluindo o Medicare, retardando todo o processo de socialização da saúde iniciado pela administração Obama. A aproximação dos sistemas de saúde europeu e americano ficará assim mais difícil. Pela sua capacidade de influenciar alguns setores de pensamento político europeu, essa atitude poderá quebrar premissas de entendimento entre as diferentes forças políticas na Europa que, por enquanto, continuam a convergir no tema do investimento em saúde pública.
Em resumo, através da sua postura de rutura dos sistemas sociais, Donald Trump poderá afetar a saúde pública na Europa de diversas maneiras, desde a quebra da cooperação internacional até à rutura de consensos sobre a saúde pública. A Europa tem de estar atenta a essas mudanças e terá de definir estratégias de alinhamento político na saúde pública de forma a não prejudicar o bem-estar das suas populações.