O FUTURO DA SAÚDE NA EUROPA
O recente relatório Draghi tem tudo para ser um ponto de viragem na vida de todos os europeus. Este relatório tem a virtude de apontar os grandes problemas de forma bastante objetiva, o que poderá ser uma boa alavanca para a Europa se repensar e encontrar um caminho de desenvolvimento mais ajustado à realidade e às tendências mundiais.
Draghi sugere que a Europa precisa de investir o dobro do que investiu para se reconstruir após a Segunda Guerra Mundial, de forma a ser mais competitiva com outras geografias superpotentes. Em três pontos, Draghi propõe: (i) Reduzir a distância existente no que respeita à inovação nas tecnologias mais avançadas, relativamente à China e aos EUA; (ii) Criar um plano conjunto de descarbonização e competitividade; (iii) Aumentar a segurança e reduzir dependências externas.
Creio que estes pontos estratégicos já estão patentes nos desejos europeus, mas na prática não temos caminhado nessa direção, pelo menos não o temos feito de forma consolidada. Há apenas algumas décadas atrás a economia europeia representava um quarto da economia mundial, tendo na altura o mesmo peso relativo da economia americana. Enquanto os EUA mantiveram esse peso, a Europa tem perdido share e representa hoje apenas um sétimo da economia mundial.
A inovação na Europa mantém-se ligada a empresas do setor automóvel que está em profunda restruturação. Aliás os grandes fabricantes anunciaram já o fecho de fábricas e não conseguem acompanhar o ritmo das mesmas indústrias americana e chinesa que apostam de forma mais contundente no setor elétrico de acesso mais abrangente.
Por outro lado, os EUA apostam agora muito mais em novas tecnologias, onde estão muito mais adiantados, como por exemplo a Inteligência Artificial, mantendo a saúde como uma das áreas privilegiadas.
Como disse a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, os EUA inovam, a China copia e a Europa regula. Um bom exemplo é o mercado dos dispositivos médicos onde a Europa foi sempre a região mais inovadora e ágil, encontrando-se agora num ponto de retrocesso por ter criado um regulamento bastante mais restritivo à entrada de novas tecnologias no mercado.
O relatório Draghi menciona a saúde 10 vezes, incluindo-a como uma das forças económicas da União e recomendando o uso dos dados de saúde dos cidadãos para efeitos de investigação. Os dispositivos médicos são apontados como um setor que pode ajudar a reduzir a lacuna de inovação com os EUA e a China, referindo-se às barreiras de integração vertical de IA, permitindo maior celeridade na adoção de novas tecnologias aceitando as evidências do mundo real. O relatório vai ainda mais longe ao discutir o estabelecimento de regras para estudos que combinam medicamentos, dispositivos médicos e IA.
No que toca a Portugal, como tenho aqui defendido várias vezes, o declínio da indústria automóvel europeia e a incerteza que existe no mercado obriga-nos a repensar a estratégia da conversão das nossas indústrias mais dependentes desse setor, como é exemplo a indústria dos moldes, que deverá encarar os dispositivos médicos como uma alternativa estratégica primordial.