A NOSSA SAÚDE NO CONTEXTO MUNDIAL
No idealismo de querermos que a nossa saúde seja a melhor do mundo, teremos de lutar contra a falta de pragmatismo em como a tornar de facto melhor. Nada como recorrermos a algum benchmarking para nos inspirarmos na escolha do melhor caminho a prosseguir, usando os resultados da plataforma www.wisevoter.com que permite aos cidadãos, eleitores e autoridades eleitas democraticamente, informações, insights e ferramentas que amplificam a democracia na era moderna, numa escala mais global. Com todos os perigos que a democracia enfrenta nos tempos que correm, creio que esta plataforma é de facto interessante para os que a defendem e a querem intensificar no mundo em que vivemos.
Entre vários capítulos analisados pela plataforma, surge a Saúde, que é assunto primordial nesta crónica. Entre 162 países, Portugal aparece em 40.º lugar, atrás da Letónia, Lituânia, Hungria, Estónia Espanha e, naturalmente, de todos os países mais ricos europeus. Nas 10 primeiras posições surgem Bélgica, Japão, Suécia, Suíça, Noruega, Alemanha, Islândia, Finlândia, França e, curiosamente, Malta.
Recentemente, Malta foi classificado como o 5.º país com melhor sistema de saúde no mundo pela Organização Mundial de Saúde. De facto, o sistema de saúde maltês é bastante respeitado pelos residentes, que podem optar pelo serviço público ou pelo serviço privado. A maior parte do financiamento da saúde é feito por via dos impostos, mas cada vez mais residentes compram seguros privados e muitas empresas oferecem serviços privados de saúde aos seus colaboradores. As farmácias oferecem normalmente serviços de consulta médica aos seus clientes, com um médico de clínica geral, mas algumas já oferecem o acesso a outras especialidades. O custo de cada consulta é de 10 euros.
Malta apostou na saúde como uma indústria exportadora. Os hospitais privados estão bastante bem equipados e o turismo de saúde foi especializado em cirurgia ortopédica e plástica/reconstrutiva.
Nenhum cidadão é obrigado a registar-se num médico (ou seja, não há médico de família), os centros de saúde recebem os pacientes que aparecem para consulta, o que indica que não haverá longas listas de espera. Existe uma organização de enfermeiros que oferece determinados cuidados de saúde, o que permite reduzir algumas iniquidades comuns aos sistemas de saúde. A visita médica a casa dos doentes também é possível, mas só depois das oito horas da noite, segundo a emergência de cada caso. Tanto médicos como enfermeiros trabalham para os dois setores, público e privado, como em Portugal e em vários outros países europeus.
A Medicina Dentária está incluída no serviço público. Os médicos dentistas que trabalham para o serviço público também trabalham no setor privado. Os medicamentos são reembolsados pelo sistema de saúde maltês.
Resumindo, parece-me que Malta consegue uma organização do sistema de saúde bastante eficaz e apreciada pela sua população. A economia maltesa usa 10,8% do PIB para despesas de saúde gastando, $3,135 per capita contra $2,342 de Portugal*. Tem de facto um PIB per capita bastante mais interessante do que o português ($39k vs $27k).
Malta e Portugal foram líderes de programas de cidadania baseados em investimento. Malta tem beneficiado bastante destes programas para desenvolver a sua economia. A oferta de saúde é chave para que estes programas funcionem e tenham impactos positivos na economia dos países.
Malta é um bom exemplo de que não se fazem omeletes sem ovos. Para ter uma boa saúde temos de acelerar a economia, facto ausente do discurso político e na realidade atual em Portugal.
*https://en.wikipedia.org/wiki/List_of_countries_by_GDP_(nominal)_per_capita