MAS AFINAL ESTAMOS À ESPERA DE QUÊ?
Desculpem o tom, não quero faltar ao respeito a ninguém, mas há momentos na vida em que o impulso que faz rodar o mundo nos invade e perdemos a paciência para analisar e compreender a atitude e os comportamentos dos que podem mudar as coisas e não mudam. Aqueles em quem votamos são o nosso reflexo, e se não mudam as coisas, nós temos que assumir as culpas. O que mais me aborrece, irrita, chateia, enfim, noutros fóruns poderia haver mais verbos para classificar a minha frustração, é que todos concordamos com tudo mas as coisas não acontecem. As coisas não andam, não mexem, resignam-se a manter-se sempre na mesma. Grandes reformas são anunciadas, pensadas, discutidas, debatidas e depois, afinal, não passam do papel.
Todos acreditamos que os sistemas público e privado podem contribuir para o mesmo objetivo em saúde, mas a partilha de dados de saúde entre ambos não acontece. Todos sabemos que a indústria financia o SNS com dívida oculta e com recebimentos muito atrasados sem cobrança de juros, mas há 50 anos que o prazo sobe muito e desce pouco e a situação mantém-se. Portugal é o país na Europa que paga pior, sendo difícil de acreditar que este comportamento é positivo, pois grandes investimentos que poderiam ser feitos em investigação e outras áreas de desenvolvimento não são feitos por causa deste cartão de visita. Garanto que não compensa.
Era suposto que a nova direção do SNS tivesse autonomia financeira. Continua tudo dependente não do Ministério da Saúde mas sim do Ministério das Finanças. Vai continuar assim? Por favor alguém me elucide, pois posso estar errado e não quero ofender ninguém.
A balança de transações de bens e serviços de saúde, entre aquilo que produzimos e exportamos e o que importamos, continua muito negativa. Sabemos que uma balança de transações positiva é muito benéfica para o sistema de saúde e que só grandes empresas com capacidade de escalar mundialmente podem inverter esta situação. As grandes empresas geram clusters para a sobrevivência de pequenas empresas nacionais. Mas a política fiscal para as empresas exportadoras é igual para todos, mesmo para os que não exportam e ninguém fala sobre a proteção fiscal que muitos países implementam com exportadores. Nada fazemos para atrair grandes empresas a entrar em Portugal para produzir tecnologias de saúde, ajudando a nossa indústria a fazer parte desta cadeia de valor. O país apresenta neste momento as melhores condições para estas empresas entrarem em força, pois a deslocalização de empresas da Ásia para a Europa favorece a procura de países como o nosso, só que os nossos impostos são o dobro dos nossos concorrentes diretos, dentro da própria Europa. O dobro! Somos reprovados em qualquer análise de localização de grandes empresas de alta tecnologia que viriam segurar o emprego especializado, desenvolver a investigação e aumentar brutalmente o nosso PIB, apenas pelo fator impostos. Todos os outros fatores nos apontam como favoritos. Mas não basta termos os olhos bonitos. Temos que dar garantias às empresas que se instalam no país de terem a rentabilidade necessária para responder aos desafios do mercado mundial. Se existe uma análise que prova que baixar os impostos tem um efeito devastador para a economia portuguesa a médio prazo, eu até posso desculpar os políticos, mas ninguém me convence que taxar a 12% de uma grande produção exportadora é pior que taxar 30% de nada. Esta poderá ser uma razão que explica o fraquíssimo crescimento económico do país nas últimas décadas. E a Saúde é a que mais sai prejudicada por esta situação.
Mas afinal estamos à espera de quê?