LUÍS LOPES PEREIRA

A SAÚDE AQUI AO LADOEm termos geopolíticos e geoestratégicos estamos cada vez mais inseridos numa realidade ibérica que, por força da desproporcional dimensão, é ditada por Espanha, com quem temos de nos entender e aprender a coopetir (permitam-me esta tradução forçada, mas creio que traduz bem a metamorfose entre competir e cooperar). Comparando com outras regiões europeias, a Ibéria é a região mais pequena em termos de população e riqueza, embora a qualidade de vida seja invejável quando comparada com as regiões mais poderosas em termos económicos. Espanha é a única fronteira que temos e estamos condenados a uma pena que outrora foi de disputa pelo Mundo e que agora temos de encarar como uma oportunidade para alavancar a nossa economia e a nossa sociedade, continuando a olhar para o Mundo Global que iniciámos em conjunto na época dos Descobrimentos. 

Os nuestros hermanos inspiraram-se na nossa solução governativa (a agora extinta geringonça) e avançaram com um governo que foi muito criticado, mas que vai sobrevivendo, aparentemente sem grandes estigmas ideológicos. Como exemplo temos o muito recentemente anunciado PERTE (Projetos Estratégicos para a Recuperação e Transformação Económica) exclusivamente para a Saúde, curiosamente intitulado “PERTE para a saúde de vanguarda”. Este título, além de ser apelativo, também tem um significado, pois a vanguarda, para o governo espanhol, tem um sentido estratégico de combinar Medicina de Precisão, Medicamentos de Terapias Avançadas e Ciência de Dados e Inteligência Artificial. Para tal, o governo assume que “o setor da Saúde se apresenta um grande dinamizador da economia espanhola com um claro potencial de desenvolvimento e inovação, assim como de geração de emprego”. Em Espanha o gasto público em Saúde é de 6% do PIB, parecido com o de Portugal, não esquecendo que o PIB per capita seja 22% superior ao português.  

O PERTE para a saúde de vanguarda apresenta os quatro objetivos acima descritos entrelaçados com cinco linhas transversais: fortalecer e desenvolver as capacidades dos centros do SNS; investir no desenvolvimento, digitalização e modernização da capacidade industrial (aumentando a autonomia de produtos nacionais de saúde); desenhar e implantar instrumentos e estruturas que assegurem a colaboração e a coordenação entre o tecido científico e o tecido empresarial; reforçar a coesão territorial e fortalecer a formação. Para a sua execução o PERTE para a saúde de vanguarda tem um orçamento de cerca de 1,5 mil milhões de euros, dos quais 67% são dirigidos ao setor público e 33% ao setor privado. 

Ou seja, o governo espanhol parece ter um plano estratégico claro para a Saúde, com um orçamento dirigido a ambos os setores, público e privado, com uma clara ambição de conquistar o futuro e classificar a Saúde como um setor de valor e desenvolvimento da economia. Uma perspetiva que podia agora inspirar o próximo governo português, seja qual for a sua estrutura partidária, podendo ser mais pragmático e encarando a saúde como uma oportunidade imperdível de desenvolvimento económico, social e tecnológico do país. 

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