COMO SE VIA O FUTURO DA SAÚDE ANTES DA PANDEMIA – Antes da pandemia, o World Economic Forum publicou um relatório com o título “A Vision for the Future: Transforming Health Systems”, que se baseou na análise de cinco patologias em cinco países e comparou a situação corrente com uma situação ideal, sugerindo iniciativas políticas para melhorar o acesso e a equidade. As grandes preocupações deste relatório fundamentam-se em várias realidades, como os sistemas de saúde estarem sob grande pressão em todo o mundo, o crescimento populacional, o envelhecimento, o surgimento da medicina personalizada e o potencial crescente de novas tecnologias, juntamente com o rápido aumento dos custos e a entrada de concorrentes disruptivos que normalmente aumentam a procura por serviços e afetam o desempenho e a sustentabilidade dos sistemas de prestação de cuidados de saúde. Em 2050, uma em cada seis pessoas terá mais de 65 anos e mais pessoas viverão com uma ou mais doenças crónicas. Apesar das reformas no financiamento da saúde, há ampla evidência de desperdício e de ineficiências nos sistemas de saúde, prevendo-se que os gastos globais com saúde continuem a aumentar.
Conclui o relatório que é necessária uma transformação da sociedade para estilos de vida mais saudáveis, conjuntamente com várias outras ações: uma reengenharia dos sistemas de saúde para colocar as pessoas no centro, a disponibilização de financiamento adequado que garanta que o dinheiro seja bem gasto e uma cultura de construção de parcerias para garantir bons resultados. Isso também significa ter a arquitetura de saúde global certa e o apoio dos políticos para a concretização de legislação e orçamentos necessários a nível nacional, bem como a liderança das comunidades na conceção de sistemas de saúde que não deixem ninguém sem acesso. Para conseguir os melhores resultados possíveis na saúde até 2030, os políticos, líderes do setor, académicos, membros da sociedade civil e profissionais devem trabalhar em conjunto para reorientar os sistemas de saúde de forma a que se tornem centrados nas pessoas e sejam mais holísticos. É essencial abordar as condições sociais e económicas que afetam a saúde, além de fornecer serviços de saúde de qualidade adequados e centrados nas pessoas, dando prioridade a uma cobertura universal de saúde, inclusive por meio de recursos humanos e físicos adequados.
Como é que a pandemia afetou esta visão do futuro? Esperava-se que a mortalidade seria mais influenciada por doenças crónicas e a pandemia veio agudizar este problema além de alargar as causas de mortalidade a ela própria em todas as populações. Esta realidade veio acelerar o processo desenhado pelo WEF, notou-se mais colaboração entre os stakeholders e a necessidade de aumentar o financiamento da saúde está patente na estratégia da União Europeia e de outras geografias. Mas a pandemia trouxe de novo o problema da globalização com o maior controlo de fronteiras, notou-se mais o fosso do acesso à saúde entre países pobres e países ricos, havendo a necessidade, já patente na última reunião da ONU, de reorganizar a Organização Mundial de Saúde /WHO. A pandemia trouxe mais certezas quanto à necessidade de investir em saúde, mas trouxe mais incertezas quanto ao acesso global, essencial em qualquer quadro pandémico.