COMEMORAR EM CONFINAMENTO – Escrevo esta crónica no dia do aniversário da minha mãe, que completou 88 anos em março. Vive sozinha em Lisboa e tem uma qualidade de vida excelente para a sua idade, permitida por alguma tecnologia médica como sejam um pacemaker, um controlador da diabetes e um telemóvel com algumas aplicações que usa com frequência, como um contador de passos, um medidor de batimentos cardíacos e o Uber do qual é, somos, fãs incondicionais. Vai às compras, envia WhatsApp’s, por vezes demasiados, pinta de vez em quando (é pintora), menos do que planeara e, antes do confinamento, ia dando umas aulas de pintura na Associação dos Professores da qual é fundadora. Toda a família contacta com ela diariamente por vezes por imagem. Nestes tempos o provérbio vai-se mutando para quem não vê caras não vê corações. Celebrámos o seu aniversário à nossa maneira. A inteligência é a capacidade de adaptação à mudança. A minha mãe é uma pessoa peculiar, é o motor da família, tem uma resiliência, uma alegria de viver e uma adição contagiante de quase noventa anos agarrada ao positivismo. Para ela tudo é possível e tudo tem uma solução. Creio que esta atitude tem sido o segredo da sua vida e uma lição imensa para a minha. Se todos fossem como a minha mãe o nosso Sistema de Saúde seria um spa de altíssima qualidade. E esta magnífica revista que publica estas palavras, que celebra todo ano a qualidade de vida, teria mais páginas dedicadas às instituições de saúde. Já no fim do primeiro trimestre de 2021, a minha mãe continua sem ser chamada para a vacinação, vai-se lá saber porquê. Não se queixa, quando tiver de ser vacinada vai com humildade e alegria, aceita a marca que lhe derem. Até para vacinar é preciso ter coragem e planear com sentido. Enfim, hoje é para celebrar não tanto para remediar maus projetos, fico-me apenas por este lamento.
No dia do seu aniversário toda a gente lhe ligou, alunos, ex-alunos, membros da família numerosa, muitos amigos seus que ainda cá estão, ex–empregadas domésticas que a adoram, vizinhos, colegas e muitos outros amigos, bastante mais novos, que ela arranjou pela vida fora. Celebrou em confinamento, com uma alegria pouco comum nestes tempos. Rimo-nos, porventura para abafar a saudade de estarmos todos juntos, emocionámo-nos, talvez porque damos muita importância a estas coisas, enfim celebrámos o seu aniversário. A incerteza que cada um de nós tem de não saber se celebra o próximo aniversário poderá ser um bom motivo para acordar todos os dias com vontade de fazer, aprender, pensar, ajudar e celebrar também as pequenas vitórias do dia a dia.
A adolescente FRONTLINE Magazine completa 14 anos e está de parabéns. Nesta celebração confinada, o que eu posso desejar a todos os amigos que a ajudam e ajudaram a publicar temas sobre qualidade de vida, é que prossigam com o positivismo que descrevi acima, com a inteligência da adaptação à mudança, com a alegria que nos uniu anualmente em festas inesquecíveis que certamente voltarão, ainda melhores.