LUÍS LOPES PEREIRA

ENFRENTAR A COVID SEM MEDOS – Esta pandemia foi claramente influenciada pela atual sociedade de informação, que espontaneamente permitiu a circulação de notícias pouco fundamentadas que criaram o pânico transversalmente em todos os setores da sociedade, incluindo os próprios prestadores de saúde. Para combater a ignorância sobre o vírus criámos juízos que nos levaram ao medo e nos tiraram a lucidez para resolver situações, muitas vezes mais graves que a própria Covid, que atingem todos os dias a saúde das populações. Provavelmente afetaram-se recursos desnecessários para tratar eventuais casos de hospitalização provocada pela pandemia que felizmente não chegaram a atingir a dimensão esperada, mas que infelizmente travou o tratamento de outros doentes sem Covid que viram as suas cirurgias e tratamentos a serem adiados e a criarem indesejáveis listas de espera. Mas o que marcou a primeira fase da pandemia foi o medo de trabalhar nos hospitais e o medo de irmos aos hospitais, medos que radicalizaram a infeção por Covid como o único mal a combater na saúde. Esse medo é natural perante o desconhecido, mas fica por medir a dimensão do impacto da informação exagerada e eventualmente enganosa, divulgada pelos meios de comunicação e pelas poderosas redes sociais nesse primeiro embate do contágio.

Com medo ou sem ele, pois também houve ao mesmo tempo muita coragem especialmente por parte de muitos profissionais e gestores de saúde, este período também se caracterizou como uma intensa aprendizagem sobre como combater esta pandemia e outras que poderão surgir no futuro. Ao contrário do que se diz sobre o vírus agora estar mais fraco, a verdade é que não foi o vírus que enfraqueceu, como confirmou recentemente o virologista Pedro Simas, mas de facto sabemos enfrentar melhor a doença, os infetados recuperam mais em casa e sabemos mais como evitar hospitalizações e internamentos em Cuidados Intensivos.

No momento em que já vivemos a segunda vaga da infeção, é muito importante não entrarmos de novo em pânico e acreditarmos em todos aqueles que adquiriram conhecimento durante a primeira fase: os profissionais de saúde, que aprenderam a tratar e identificar melhor os doentes infetados e que agora têm mais meios para superar a doença; os gestores de saúde, que poderão agora ajustar melhor a afetação de recursos sem desperdícios e decidir como organizar a sociabilização dos portugueses; as pessoas que se infetaram na primeira vaga e aprenderam agora como evitar uma segunda infeção; a população que conseguiu evitar a infeção na primeira vaga e tentará manter o mesmo comportamento de forma a permanecer longe do vírus. Precisamos desta confiança para que a sociedade não volte a parar, para que a saúde dos portugueses possa ser tratada e a economia nos faça acreditar de novo na prosperidade.

A grande lição que se tira, ou melhor, a confirmação a que chegamos tal como a ciência tem concluído, é que a economia depende da saúde e não é esta que depende dos recursos que a primeira cria. Por outras palavras, a economia desenvolve-se tanto mais quanto mais um país for saudável e confiante nos cuidadores de saúde. Logo, os cuidados de saúde não podem parar, os profissionais têm de ter a capacidade de tratar todos os doentes, com Covid e sem Covid, beneficiando da aprendizagem retirada da primeira vaga de infeção. Desta vez temos de estar preparados para reagir com agilidade e flexibilidade de forma a não parar os cuidados de saúde fora da esfera da Covid, sem deixar que o vírus se propague dentro e fora das unidades de saúde e sem deixar que o medo nos faça parar tudo, parar a economia.

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