LUÍS LOPES PEREIRA

A ECONOMIA E A SAÚDE DE MÃOS DADAS – No meio da tragédia económica que a pandemia causou ou que ainda vai causar, torna-se difícil ser otimista. O maior desafio de todos será olharmos para o problema com algum pragmatismo, mas também com empreendedorismo e coragem. Já se notam algumas alterações no discurso e na ação politica, nomeadamente a necessidade de reforçar o investimento na Saúde, a introdução de programas de incentivos para os profissionais de saúde se motivarem em limpar as listas de espera e sinais de uma desejável autonomia na gestão dos hospitais públicos. Aprendemos que perante um problema tão grave como é o da pandemia, há diferentes soluções que se ajustam pela cultura da organização, pelo estilo de liderança e pela estratégia de desenvolvimento que cada instituição tem definida para si. É na simbiose destes aspetos que se consegue o engagement dos colaboradores numa instituição como um hospital. Os colaboradores têm que se identificar com as medidas que as suas Administrações tomam, e essas medidas serão tanto mais eficazes se conseguirem ser entendidas e implementadas no campo, seguindo procedimentos que se ajustam à organização. Por isso vejo com algum otimismo um Ministério da Saúde menos gestor do sistema e mais orientador. Ou seja, mais político e menos gestor.  

O exemplo de algumas câmaras municipais revela a importância da descentralização, pois a sua ação no que respeita ao controlo do desconfinamento com segurança é e será essencial no futuro. Umas fizeram campanhas de informação, outras ofereceram materiais de proteção e geriram ou controlaram os transportes públicos e das empresas da sua área de forma a garantir que o mesmo que aconteceu no Porto e agora em Lisboa fosse evitado. O exemplo camarário leva-me mesmo a pensar que deveria haver uma estratégia política comum entre a Economia e a Saúde. É importante saber a importância que cada um tem para o outro, evitando cada um falar apenas nas suas preocupações. Os dois discursos têm que estar concertados, pois se a segunda vaga pandémica for pior que a primeira, não chegará a sensatez dos cidadãos em seguir as regras ou o controlo policial para evitar ajuntamentos. 

Mais do que isso, todos sabemos que as crises servem para tirar lições para o futuro, mas também servem para vermos as oportunidades que elas criam. Neste caso, a Economia deve olhar para a Saúde como uma oportunidade de tornarmos o setor menos dependente do exterior. Creio que o país deveria olhar para as indústrias que têm capacidade de escalar produção internacionalmente e apostar fortemente nas mesmas, ajudando a diversificar a sua produção, aumentando a cadeia de valor dessas indústrias na área da Saúde. Certamente que setores como os moldes, o software, a indústria química e o setor privado de prestação de saúde poderiam e deveriam ser apoiados para que o desenvolvimento de produtos tecnológicos e serviços diferenciados e de excelência possam ser oferecidos por Portugal para uma oferta que é mundial. 

É caso para dizer que “os quinhentos” agora são outros. Se há quinhentos anos exportámos pessoas para o Mundo e o colonizámos, agora temos que reter e convidar o Mundo a vir para Portugal e deixar sair o nosso talento, não na forma de pessoas, mas sim como produtos e serviços, equilibrando a balança de transações na área da Saúde e assim termos a capacidade de a financiar. Se pensarmos estrategicamente na oportunidade que a Saúde oferece, podemos ter mais quinhentos anos risonhos pela frente. 

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