LUÍS LOPES PEREIRA

LLPNOVOS CAMINHOS NA SAÚDE

 

A pressão económica sobre os sistemas de saúde tem como base a insustentabilidade do crescimento da despesa pública nesta área. Em Portugal, o orçamento para a Saúde tem descido desde o início da crise económica numa contenção de custos geral. Todo este esforço merece uma boa justificação e, além de tudo, merece agora uma nova estratégia, pois as medidas tomadas até ao momento não poderão continuar por muito mais tempo sob pena do SNS, um dos pilares da nossa democracia, ruir e arrastar os alicerces da nossa sociedade e do desenvolvimento do país. Portugal precisa de encontrar novos caminhos, novas formas de financiar a saúde. Recentemente, num estudo publicado na Harvard Business Review, o famoso consultor Michael Porter completou o que tinha já avançado em Portugal numa conferência na Universidade Católica: este é o momento para os sistemas de saúde implementarem uma nova estratégia que maximize o valor para o doente, procurando o melhor resultado ao menor custo. Em resumo, Porter sugere cinco pontos: 1. Organizar a prestação de saúde em unidades integradas (IPU’s, Integrated Practice Units). 2. Medir os resultados (outcomes) clínicos e os custos por doente. 3. Mudar o pagamento integral por tratamento para pacotes de pagamentos por cada fase de tratamento. 4. Integrar os cuidados de saúde por local. 5. Expandir a excelência dos serviços de saúde em termos geográficos, de forma a nivelar e facilitar o acesso dos doentes. 6. Construir e facilitar a utilização de uma plataforma tecnológica de informação. Para seguir esta estratégia temos que construir em termos táticos alguns cenários de sustentabilidade ao longo dos próximos tempos. A curto prazo, e acredito que este ciclo já está concluído, foi necessário realizar cortes efetivos na despesa, através de ações concretas no staff dos hospitais, contenção salarial, baixas de atividade, introdução de preços base nos concursos, cortes no investimento e centralização de compras. A médio prazo, temos que iniciar a procura concreta da eficiência. Para tal, os hospitais e os prestadores de cuidados em geral têm que introduzir procedimentos ajustados, fazer corresponder a capacidade à atividade, introduzir a inovação para a eficiência, concentrar a atividade, etc. A longo prazo, passaremos depois para uma mudança estratégica, apostando mais na prevenção, na antecipação, no enfoque no doente em termos globais, nos cuidados dos doentes crónicos, na educação e nos cuidados próprios, ou seja teremos o doente a participar mais na prevenção, no diagnóstico e no tratamento. Para a construção desta nova visão da saúde acredito que é essencial a cooperação de todos os players do setor. Embora se fale há muito em parcerias, o termo entrou em descrédito, por razões conhecidas, mas temos que relançar as parcerias em que o risco é de facto partilhado. O risco só pode ser verdadeiramente partilhado se os sistemas tiverem a capacidade de medir a todo o momento o resultado desta parceria, precavendo contratualmente o constante ajuste para que os recursos possam ser otimizados para as necessidades crescentes da saúde.