PLANEAR A SAÚDE E DECIDIR PELA EVIDÊNCIA – Em vez de discutir uma lei para a saúde, a Nova Zelândia optou por fazer um plano para a saúde, com uma forte componente de tecnologias digitais. O plano tem dado frutos, através de políticas muito fortes de criação de dados de saúde dos cidadãos e de uma estratégia a 10 anos, com investimentos baseados na evidência retirada a partir da recolha desses dados. Resultado: o melhor índice de satisfação geral de qualidade de vida dos cidadãos dos países da OCDE, com base no melhor resultado sobre o sistema de saúde nacional (88% vs. 69% de média dos países). A transformação durante décadas de um serviço totalmente público para um serviço misto englobado num sistema público com regras de financiamento claras terá sido também importante para o sucesso da Nova Zelândia. O plano criado em 2016 espera atingir bons resultados em 2026, estando baseado em três vetores:
1) melhorar a qualidade, a segurança e a experiência de cuidados de saúde dos cidadãos;
2) melhorar a saúde e a equidade de todas as populações;
3) alcançar o melhor valor para os recursos do Sistema Nacional de Saúde.
É importante frisar que o Sistema não pretende ter serviços públicos exclusivos, mas pretende englobar e fazer respeitar as regras que os cuidados de saúde exigem neste mercado tão específico. O plano salienta o uso de dados de saúde e tecnologias para poder valorizar as unidades de saúde. Proclamando este tema como Smart System, o Ministério da Saúde da Nova Zelândia reforça a ideia de que sistemas de informação inteligentes, com colheita e seguimento progressivo dos dados individuais dos cidadãos, poderão ajudar o processo de decisão e a gestão da saúde em geral. O Ministério decidiu estabelecer um guia de investimentos na área digital, denominado Digital Health 2020, a ser executado entre 2016 e 2020. Desejam assim criar a base para conseguir melhores outcomes de saúde para os doentes e para as populações, possibilitando a decisão baseada na evidência no que respeita concretamente ao financiamento de serviços, considerando aspetos como a prevenção, a intervenção atempada em estágios mais precoces das doenças e a eficácia e eficiência dos hospitais. O uso de tecnologias digitais tem também a colaboração dos próprios cidadãos, como é o exemplo do seguimento através de uma aplicação de inquéritos semanais muito simples, com resposta em cinco segundos, na época das gripes, de forma a responder a situações epidémicas gerais ou focalizadas regionalmente. Este plano é feito em conjunto com o país mais próximo, que é a Austrália. Creio que em Portugal também poderíamos estar mais centrados num plano para a saúde que todos desejamos, independentemente das nossas escolhas políticas, usando todos os recursos disponíveis, públicos e privados, controlados e regulados por um verdadeiro Sistema Nacional de Saúde que poderia criar as regras e investir num sistema de dados de saúde que fosse exequível.