Acompanha Portugal as tendências internacionais da saúde?
A revista Forbes publicou recentemente as tendências para 2019 do mercado internacional da saúde, que passam por um crescimento significativo dos modelos baseados no valor – pagamentos baseados em resultados clínicos; pelo crescimento da Inteligência Artificial para aplicações IT e da tecnologia digital usada fora do hospital, estando o continente asiático a assumir-se como novo local de inovação tanto para fármacos como para dispositivos médicos; ou por uma análise de dados de saúde mais focada no Small Data do que no Big Data, incluindo a introdução da tecnologia Blockchain. Estas tendências apresentadas pela Forbes incluem ainda cuidados de saúde mais predominantes nos questionários à opinião pública e também os novos modelos de seguro privado “a abanar” a indústria dos pagadores de cuidados de saúde. E como se tem comportado Portugal em termos de alinhamento com estas tendências? No campo dos contratos baseados no valor, por cá já existem algumas áreas terapêuticas alvo destes modelos. No entanto, a difícil e demorada contratação pública e a sua dependência do Ministério das Finanças têm limitado a autonomia das instituições para inovar na contratação com fornecedores de bens e serviços. No dia 10 de maio, durante a Cimeira de Cascais, foi assinado um acordo entre várias instituições e a Universidade Nova, no qual todos os signatários se comprometeram a medir os outcomes clínicos e valorizar a prestação de cuidados que vão ao encontro do princípio do Value Base Health Care. No que toca ao software de saúde, há inúmeras oportunidades que o envelhecimento ativo e o aumento das doenças crónicas trazem para este mercado, dentro e fora do hospital. Infelizmente tudo indica que, embora a produção nacional dedicada à saúde tenha um peso já significativo, tem ainda pouco impacto nas exportações, o que demonstra que esta é uma indústria ainda muito dedicada ao mercado nacional. Creio que o país oferece uma relação qualidade-preço que poderia competir mesmo com os destinos asiáticos no que toca à investigação clínica. Prova disso são os recentemente assinados pactos para acelerar a investigação clínica em Portugal, que podem trazer alguma esperança a este setor. Por outro lado, os hospitais também já começam a apostar no Small Data, enquanto as autoridades pretendem construir um Big Data, também muito importante para o controlo da saúde de uma população. Existem alguns dados de performance, mas poucos relacionados com resultados clínicos. Em Portugal existem empresas de software com forte conhecimento em Blockchain e com grande sucesso na banca internacional, mas que devem ainda diversificar o seu conhecimento para aproveitarem a oportunidade que passa por assegurar a segurança dos sistemas de informação relativamente à saúde dos cidadãos. Por último, e relativamente aos seguros privados, por muito que ideologicamente se pretenda um SNS universal e completo em Portugal, para que a saúde dos cidadãos seja devidamente tratada e melhorada temos de enfrentar o problema do financiamento. É por isso necessário chamar os empregadores para responder a este problema, pois é a atividade produtiva a que mais ganha com um sistema eficaz de saúde. O caminho deve passar por continuarmos com um sistema misto entre SNS e seguros privados, que, ao invés de concorrerem entre si, podem ser complementares. Portugal tem condições e conhecimentos que permitem o acompanhamento das tendências mundiais, podendo competir na inovação em diversas áreas e prestar cuidados de saúde com elevada qualidade a todos os cidadãos. Não me parece que as divergências táticas que possam existir entre políticos e gestores de saúde devam entrar no campo ideológico e anular a capacidade que sempre nos ajudou a ultrapassar as barreiras e a melhorar o sistema. A saúde é um bem de todos e para todos, que se insere num mercado que requer uma regulação exigente à sua medida, pela competência de quem exerce, pela responsabilidade de quem paga e pela capacidade de inovação de quem fornece este mercado, que é a base do desenvolvimento económico-social no mundo inteiro.