LUÍS LOPES PEREIRA

Em busca do fundo perdido

Esta analogia com a saga do Indiana Jones tem a ver com um serviço que se encontra esgotado, mas em que a nossa alma lusa, saudosista e sebastianista, teima em acreditar. Oiço dizer que o Serviço Nacional de Saúde pode oferecer uma altíssima qualidade de uma forma bastante sustentável, concentrando em si toda a oferta. Há até quem sustente, apenas como ideia pois a sua sustentabilidade financeira é cada vez mais posta em causa, que o Estado deveria ser o único agente de regulação, prestação e pagamento da saúde em Portugal. No país fundador do NHS, onde Shakespeare definiu a questão to be or not to be, cada vez mais se pensa sobre um NHS que parece “não ser” sustentável. Por aqui, choramos com Camões: “Alma minha gentil que te partiste/ tão cedo desta vida, descontente,/ repousa lá no Céu eternamente,/ e viva eu cá na terra sempre triste.” Seria um bom requiem para o SNS em Portugal, num funeral que não queremos que aconteça. De facto, tanto o Reino Unido como Portugal parecem preocupados com a sustentabilidade financeira dos seus semelhantes serviços nacionais de saúde. No ponto de vista crítico, o país que o criou parece-me menos demagogo que o nosso. Nicholas Macpherson, ex-secretário Permanente do Tesouro Britânico, definiu no seu twitter o NHS como um bottomless pit, um poço sem fundo. Citando-o, Martin Wolf, um economista do Finantial Times, avança que esta expressão implicaria que as despesas do NHS fossem ilimitadas e incalculáveis, discordando desse ponto de vista. Assegura que as despesas podem ser calculadas, e que os políticos têm que admitir que essas despesas são bem maiores do que apregoam. Os maus resultados são inevitáveis para quem pretende um serviço de alta qualidade e, ao mesmo tempo, se recusa a pagar por ele. Sentencia desta forma o inevitável aumento das contribuições para a saúde por parte dos contribuintes. Discute-se a forma de o fazer, vendendo este financiamento como um imposto apenas destinado ao NHS ou englobado em contribuições diretas aos cuidados sociais e de saúde, preferindo Martin Wolf esta última. Os políticos de ambos os países têm optado por suster os gastos em saúde, pressionando constantemente os orçamentos hospitalares, aumentando a dívida com os fornecedores e baixando preços transversalmente, escolhendo apenas esse como critério de escolha. Paralelamente, os seguros de saúde têm aumentado para ir cobrindo os desvios crescentes na saúde, o que nos poderá conduzir, no limite, a sistemas semelhantes ao dos EUA. Sugere Martin Wolf que os políticos sejam honestos, o que, diz ele, seria revolucionário, e digam ao povo que precisamos de mais dinheiro para cuidar dos problemas crescentes de saúde. Voltando à saga do Indiana Jones, ofereço o chapéu e o chicote ao nosso ministro da Saúde, que vê o seu deficit aumentar e a sua capacidade de oferecer a qualidade prometida (e não só) cada vez mais enterrada nas grutas das Finanças. Terá que continuar a explorar para finalmente encontrar o Fundo que a saúde merece.