Todos temos a noção de que o setor da saúde tem que mudar. Os especialistas convergem ao admitirem que a via digital pode assumir um papel importante nessa mudança. Mais concretamente, o investimento em e-health quer-se na integração e concentração das bases de dados relativas à saúde de cada cidadão e no controlo da qualidade e do custo da prestação dos serviços de saúde. Por seu lado, os doentes podem investir em aplicações para computadores, telemóveis e tablets, de forma a melhorar o conhecimento relativamente às suas patologias e monitorizar os seus problemas de saúde. Vários processos terapêuticos permitem hoje que muitos doentes sejam monitorizados à distância por profissionais de saúde, através de hardware que regista os dados do doente e transmite-os pela Internet para os hospitais ou mesmo para o telemóvel e tablet do médico assistente. Por exemplo, atualmente os doentes com pacemakers podem ter o seu coração “vigiado” através de sistemas remotos que permitem aos cardiologistas avaliar a sua situação cardíaca e intervir de imediato em caso de alerta. Temo que toda esta tecnologia disponível não esteja a ser valorizada corretamente, nem adotada quer pelos sistemas de saúde, quer pela população. Num artigo publicado recentemente pela Intelligence Unit do The Economist, intitulado “The challenge of speed: Healthcare” – resultado de um inquérito a cerca de 500 executivos que incluíam administradores hospitalares, gestores de grandes empresas de tecnologias médicas e farmacêuticas –, os autores concluíam que a velocidade da digitalização na saúde tem que acelerar no sentido de se antecipar ganhos de eficiência para melhorar cuidados, processos e modelos de negócio e conseguir-se assim atenuar o crescimento da despesa. Uma boa parte dos inquiridos põe a prioridade na melhoria dos processos ligados ao seu core business e estão confiantes sobre a sua capacidade de acelerar essa mudança. Com o objetivo de manter a alta qualidade dos cuidados de saúde e sociais, aliada a uma perspetiva de custo-eficácia, a Comissão Europeia, no seu plano de ação de e-health para 2012, prevê já que a tecnologia digital possa ser um importante aliado neste processo, permitindo aos cidadãos de todas as idades gerir melhor a sua saúde e qualidade de vida em qualquer lugar, sem terem necessariamente que se deslocar à unidade de saúde. Mas todos estes movimentos podem não estar a assumir a velocidade suficiente para que a Europa lidere este processo. No exemplo apontado pelo The Economist, a Europa liderava o mercado dos telemóveis nos anos 90 e perdeu-o. A saúde digital pode tornar-se no mesmo insucesso, caso a Europa não deixe que a inovação se sobreponha à política. Esta área deve ter um pendor mais de mercado, deixando que o seu percurso seja decidido pelos consumidores. Os riscos inerentes a um aumento de velocidade deste processo não se aplicam à saúde, uma vez que o setor é o que mais pode beneficiar da tecnologia digital, de forma a permitir uma maior integração dos sistemas e dos dados de saúde dos europeus, melhores cuidados transfronteiriços, mais equidade entre países, melhores outcomes clínicos para os doentes e, além de tudo, mais Europa.
Ref.ª: The Economist Intelligence Unit limited 2014