PREVENIR PARA NÃO REMEDIAR
Há exatamente um mês, Barak Obama postou no seu Twitter a seguinte frase: “A saúde tem sido sempre algo maior que a política: tem a ver com o carácter de um país.” Mereceu 387 mil likes, entre os quais o meu, claro. Em Portugal a saúde mantém bons níveis de prestação, mas há uma saturação que devemos saber gerir. Não podemos manter eternamente o nível de cuidados com a qualidade que pretendemos se continuarmos sem planear a longo prazo. O SNS nascido em Inglaterra durante a Segunda Guerra Mundial foi criado por Sir William Beveridge e planeado a 20 anos. Os planos a longo prazo definiam os gastos por área e iam sendo ajustados conforme as necessidades. Se há 20 anos tivéssemos um plano de longo prazo, que fosse redefinido anualmente e ajustado em termos de recursos, não tínhamos certamente as dificuldades que hoje enfrentamos neste setor: os hospitais estariam equipados, os profissionais motivados e provavelmente teríamos menos doentes a necessitarem de cuidados hospitalares. Todos sabemos que a saúde precisa de mais financiamento, mas para tal acontecer temos que procurar os meios certos e saber onde dedicar mais esforços. E além de tudo temos que aceitar entre todos o princípio de que, para que o país se desenvolva, devemos apostar na saúde. Assim, se temos que afetar mais recursos do nosso Orçamento do Estado à Saúde, algumas outras áreas terão que ceder. E aí temos de estar todos de acordo. Se há uma área na saúde onde todos temos que apostar é na sua prevenção, para não termos mais tarde que remediar, pois remediar na saúde sai caro. A DGS tem sido o elemento central na promoção da saúde com o intuito de diminuir a doença. Certamente que as campanhas do tabagismo e do desporto tiveram um impacto (provavelmente mensurável) na saúde dos portugueses. Mas toda a sociedade tem participado em campanhas excelentes de prevenção, como a conhecida estratégia de diminuição gradual do nível de sal no pão, promovida pela Sociedade Portuguesa de Hipertensão. Outras áreas precisam de mais dedicação para diminuirmos a sua incidência, como a área das doenças cardiovasculares e da diabetes. Mas fica sempre a certeza de que se houvesse mais recursos faríamos mais e teríamos melhores resultados. Para estarmos alinhados com os nossos parceiros europeus, temos de dedicar mais percentagem dos gastos de saúde à prevenção. Passar de um investimento na prevenção de 1% para 5% merece uma estratégia a longo prazo. E a longo prazo poderíamos tornar-nos num país com mais carácter e mais saúde, como tão bem definiu o presidente Obama.