LUÍS LOPES PEREIRA

001 (26)A SAÚDE E O BREXIT

Há muitas dúvidas na Europa por causa do Brexit. Por um lado, há muitos profissionais europeus instalados no Reino Unido que não sabem o que lhes pode acontecer num futuro próximo, por outro há muitos profissionais britânicos a trabalhar na Europa e imensos reformados britânicos que vivem no Sul da Europa que esperavam continuar na União Europeia, beneficiando da livre movimentação e transferência de ativos. Todos ainda são europeus com acesso à universalidade de direitos como os cuidados de saúde. Com o Brexit passam todos a depender do que for negociado entre o governo britânico e a União Europeia. Além dos direitos à assistência hospitalar e à saúde em geral previstos no espaço europeu, surge também a dúvida sobre a vulnerabilidade das carreiras dos muitos europeus, entre os quais muitos portugueses, que trabalham na área da Saúde no Reino Unido, se estão em risco ou não. Theresa May não abriu ainda o jogo, e muitos britânicos que vivem fora do país gostariam que ela garantisse que os direitos dos europeus que vivem no Reino Unido se mantivessem após o Brexit, para que, dessa forma, esperassem os mesmos direitos que têm na Europa. Relativamente às carreiras dos europeus que vivem no Reino Unido, parece-me difícil haver alterações, pois se os seus cursos médios e superiores passarem a não ser equiparados, os serviços como a Saúde sofrerão graves problemas. Mas pode haver lugar a downgrading salarial ou haver preferências por naturais britânicos nas escolhas de evolução de carreiras ou mesmo nos primeiros empregos num futuro próximo, o que criaria algum desconforto aos europeus, desembocando num êxodo desses profissionais a médio prazo. O facto é que os movimentos de pessoas e bens entre a grande ilha e o continente são motores económicos que não podem ser desconsiderados nas negociações. O Governo português, aproveitando a situação, criou recentemente condições para as empresas britânicas que beneficiam do espaço europeu se poderem sediar em Portugal. Não sabemos o impacto desta medida mas vamos esperar que traga bons frutos para a economia portuguesa. A incerteza do Brexit fará certamente retornar alguns excelentes profissionais da área da Saúde que se ausentaram para o Reino Unido à procura de melhor sorte. Para esses, o Governo deveria aproveitar e criar incentivos de forma a que voltem motivados. Espero sinceramente que o direito à saúde possa assumir um papel muito importante na continuidade das relações entre os povos europeus e que os criadores do NHS deixem essa ponte livre de barreiras entre a Europa e o Reino Unido. Na comemoração do aniversário da sua primeira década, gostaria de terminar estas linhas dando um abraço de parabéns a toda a equipa da FRONTLINE, que sempre honrou o nome da revista mantendo-se na linha da frente da informação e promoção, ligando inteligentemente temas de Lifestyle e Business, permitindo que a temática da Saúde tivesse também o seu espaço.