OPORTUNIDADE NA TELEMEDICINA?
Quando é publicada uma resolução do Conselho de Ministros no Diário da República, as nossas expectativas são normalmente céticas, pois achamos que se trata de mais uma nomeação, uma subida de impostos ou uma taxa escorregadia, sem pensarmos que o trabalho do Governo deve ser encarado como oportunidade ou pelo menos como uma indicação para quem produz e faz avançar a economia. A recente Resolução do Conselho de Ministros n.º 67/2016 visa criar o Centro Nacional de TeleSaúde (CNTS), uma importante oportunidade para todos os intervenientes que procuram melhorar eficiências e otimizar os cuidados de saúde. A criação deste centro vem reforçar a estratégia deste Governo para o desenvolvimento da telemedicina, promovendo a utilização das Tecnologias de Informação e Comunicação como fator de alargamento de acesso e de reforma dos cuidados de saúde, com vista a alcançar um nível mais elevado de articulação, integração e melhoria da qualidade dos mesmos cuidados. O CNTS integra estruturas organizacionais já existentes e opera dinamizando uma rede nacional de unidades do SNS. Esta racionalização é bastante aceitável, esperemos, contudo, que a liderança de todo o processo também o seja. Estrategicamente serão criadas várias unidades no seio da SPMS (Serviços Partilhados do Ministério da Saúde), uma unidade Coordenadora, outra de Desenvolvimento e Investigação, algumas unidades temáticas de prestação de TeleSaúde que compreenderão prestadores de cuidados de saúde do SNS (hospitais) e uma unidade de Teleformação em ligação com o meio académico. Um ponto crítico será perceber como é que a SPMS poderá incluir tamanha tarefa, embora se entenda que tem nas suas origens o desenvolvimento das tecnologias de informação. Perguntamos assim se serão aliviados de outras tarefas para as quais poderão estar menos vocacionados. Por outro lado, tendo em consideração a nova realidade de produção de software que abre em Portugal um novo caminho de especialização económica multiplicado por inúmeras, profícuas e criativas startups, pergunto como se poderá estimular este setor tão dinâmico a partir de um organismo com pouca tradição nestes caminhos, para que se comece a olhar para a saúde como oportunidade a não perder na produção de software. A tendência internacional vai no sentido de haver mais condições para investir na monitorização de doentes, algo que é certamente interessante para esse jovem e jorrante silicon valley português de software. Esperemos para ver, mas esperemos também que se unam os esforços e as vontades de se focarem em estratégias concertantes, de forma a estimular o que fazemos bem e onde somos de facto competitivos. Se isto acontecer, podemos começar a ler o Diário da República com outros olhos e a saber aproveitar as oportunidades que dele decorrem.