SOS OBESIDADE
A recente publicação do INE com os resultados do Inquérito Nacional de Saúde de 2014 apresenta dados muito importantes para tomarmos decisões para o futuro. Um dos maiores problemas apontados nesse relatório é o da obesidade, que, como é do conhecimento geral, é uma condição que acarreta diversas comorbilidades (diabetes, hipertensão arterial, AVC, insuficiência cardíaca e cancro) e a consequente mortalidade. A importância de resolvermos este problema prende-se com a necessidade vital de tornarmos o sistema de saúde mais eficaz e de orientarmos os recursos de uma forma mais racional e otimizada. Desde 1996 que se avaliam os custos da obesidade em Portugal. Se nessa altura representavam já 3,5% da despesa em saúde, cálculos mais recentes apontam agora para cerca de 5%! Mais de metade (60%) são custos diretos (medicamentos, consultas, internamentos) e cerca de 40% referem-se a custos indiretos baseados na produtividade económica potencial das pessoas afetadas. Os custos totais ascendiam a 500 milhões de euros em 2007. Quase 10 anos passados teremos que refazer as contas. Há mais de 40 anos que existem na Europa programas de prevenção, de educação e de nutricionismo para combater este mal. Portugal não é exceção, com atividade mais evidente desde o início do século. Estes programas têm sido certamente positivos, mas desconheço em que medida sejam eficazes, acreditando que pelo menos ajudem a atenuar o crescimento da obesidade. A verdade é que essas campanhas resvalam numa realidade económica em que há muitos interesses em jogo que, muitas vezes, remam em sentido contrário. A realidade é esta: temos um milhão de obesos e 3,5 milhões de pré-obesos, números que continuam a crescer. Existem diferenças regionais e de género na incidência da obesidade correlacionadas com o rendimento, consistentes ao longo do tempo. Os resultados preliminares da decomposição dos índices de concentração apontam ainda para a importância da educação, ou da falta desta, no aumento da incidência da obesidade. Tal como noutras condições, os crónicos são os que representam a maior fatia da despesa, como tal, têm que ser tratados com maior urgência e eficácia. Os obesos crónicos podem ter que ser operados e não podemos continuar a tratar estas operações simplesmente como estéticas. Nos últimos anos as técnicas cirúrgicas vieram dar uma nova esperança a estes doentes e a evidência de eficácia tem vindo a ser demonstrada internacionalmente. Mas continuamos com 22 mil doentes em lista de espera e os esforços que têm vindo a ser feitos pelo SNS têm conseguido reduzir o tempo de espera, o que em si já é louvável. Esta lista da obesidade é a maior lista de espera nacional. Sabemos que não chega operar estes doentes. Os nossos especialistas e hospitais têm programas e equipas de acompanhamento destes doentes de forma a garantir que a operação se torne eficaz. Só que estas equipas continuam a poder tratar apenas 3 mil doentes por ano. O país requer que o programa que foi interrompido em 2012 seja reposto, mas será necessário que o problema seja encarado com maior rigor e com a intervenção e responsabilidade compartida de todos os intervenientes na saúde, pagadores, prestadores e fornecedores.