A EDUCAÇÃO DOS DOENTES DA PROMOÇÃO À UTILIZAÇÃO DOS CUIDADOS DE SAÚDE
Um estudo realizado pela Escola Nacional de Saúde Pública no final de 2014 revelava que a maioria dos portugueses tem um nível de literacia em saúde problemático ou inadequado; isto é a nossa população está pouco informada para tomar decisões fundamentadas, no decurso da vida, no que toca à sua saúde – em casa, na comunidade, no local de trabalho. Recentemente o Ministério da Saúde criou o Programa Nacional de Educação para a Saúde, Literacia e Autocuidados, uma plataforma que procura “reforçar o papel do cidadão no sistema de saúde português e fazer da informação, do conhecimento e da decisão informada, veículos privilegiados desse reforço”. Acredito que este pode vir a ser um passo importante para criar uma sociedade mais ciente das suas responsabilidades no que toca à sua saúde e tornar mais acessível a informação que até agora estava dispersa em diversas plataformas e fontes. Mas este interesse pela educação dos doentes começou na década de 1950 com a prevenção da tuberculose e mais tarde com a diabetes e a febre reumática nos EUA. A partir dos anos 1960 alguns projetos de educação de doentes e respetivos familiares foram bem-sucedidos, relativos a insuficiência cardíaca congénita, enfarte, cancro e, já durante a década de 1970, a insuficiência renal. Estes programas envolviam vários profissionais, entre farmacêuticos e dietistas que aclamavam o papel e a responsabilidade do doente no seu tratamento. Já nessa altura havia várias correntes que admitiam que o doente tem a responsabilidade de saber ou pelo menos deve ter acesso ao conhecimento sobre a adesão aos tratamentos para que estes sejam mais eficazes. A educação dos doentes também é fundamental para se diagnosticar mais precocemente doenças fatais como o aneurisma da aorta, o cancro, a insuficiência cardíaca e outras. Nestes casos, não só se consegue maior eficácia dos tratamentos como se consegue poupar em internamentos evitados e na maior qualidade de vida e independência dos doentes. A eficácia dos tratamentos interessa a todos os intervenientes, desde os prestadores de saúde, financiadores, reguladores e fornecedores de soluções terapêuticas. Torna-se evidente que todos estes intervenientes deverão apostar e investir na educação dos doentes. Nesta matéria deverá existir uma parceria efetiva entre todos os stakeholders, sempre com a participação dos próprios doentes. Como tal as Associações de Doentes devem ter um papel preponderante neste processo. Para que a literacia em saúde seja uma realidade, é assim fundamental que os programas de educação da população sejam devidamente dimensionados, pois atualmente o enfoque dos investimentos em saúde continua a ser o tratamento das doenças e não a sua prevenção, promoção e proteção. Por outro lado, os programas de educação em saúde que existem estão mais focados na população, mas com o enorme peso das doenças crónicas na sociedade portuguesa, deverá relançar-se o olhar para estes doentes e cuidadores que ao longo da sua vida são os grandes utilizadores do SNS. A educação destes doentes e cuidadores deve requerer programas mais alinhados e articulados com o protocolo dos cuidados médicos, para que assim possamos tornar mais eficiente e eficaz a prestação dos cuidados a este tipo de doentes. Mas para além da promoção de saúde e prevenção da doença, a literacia em saúde revela também a forma como, mais ou menos informados, nos relacionamos e utilizamos as instituições de saúde. Será importante refletir e trazer para a discussão a forma como os portugueses utilizam os serviços de saúde e delinear uma estratégia para que haja um maior conhecimento nesta matéria, que se refletirá necessariamente numa maior efetividade e eficiência da prestação de cuidados de saúde no nosso país.