FINANCIAR A SAÚDE DE QUEM?
É do conhecimento comum que os caminhos do financiamento da saúde dos EUA e da União Europeia são contrários; ou seja, nos EUA pretende-se passar de um sistema fundamentalmente privado para um sistema mais abrangente, mais público e com maior acesso, na Europa pretende-se travar a todo o custo o crescimento descontrolado da despesa pública dos sistemas universais de saúde, com várias medidas que favorecem o mercado privado. Mas ambas as regiões estão apostadas a oferecer maior acesso e mais saúde às populações. Em ambos os lados continuará a constante procura de eficiência, buscando os melhores preços, a rentabilização dos ativos e aumentos de produtividade dos recursos humanos. Esta otimização produtiva e económica terá que ser acompanhada por maior regulação do mercado e exigência do regulador na qualidade da prestação. Esta qualidade poderá ser instituída e garantida através de parcerias com risco partilhado e, fundamentalmente, envolvendo todos os intervenientes na saúde. Muitas vezes, entre o debate político e o ratear dos recursos para a saúde pública, o “cliente” principal não é envolvido, não participa e nem sequer é ouvido. Mas à medida que se pretende instituir maior cobertura e acesso à saúde, há um processo irreversível de aumento da concorrência que dará mais voz ao beneficiário, ao cidadão, ao doente. Este processo está mais patente nos sistemas de saúde baseados em seguros e nomeadamente nos EUA, mas também começa a ganhar dimensão entre os serviços com espetro mais nacional. O paternalismo dos governos e dos empregadores em oferecer mais saúde às populações é acompanhado por uma maior consciencialização dos consumidores relativamente aos produtos que consomem. Se os sistemas de saúde permitirem aumentar o poder de escolha dos beneficiários, a concorrência em preço, em qualidade e até em criatividade poderá ser uma imensa mais-valia para o mercado da saúde. De facto, existe muito espaço para melhorar em diversos campos, tendo em conta várias pesquisas de mercado. Em Portugal, ainda estamos muito focados no benchmarking dos resultados clínicos e vai-se avaliando (pouco) a opinião dos doentes, continuando estes longe do centro da escolha. Os prestadores privados estão mais atentos a este fenómeno, mas, ainda assim, seria bom sabermos as razões que levam os consumidores a preferir um prestador, se os financiadores envolvem os consumidores na escolha e se ambos, prestadores e financiadores, orientam as suas estratégias tendo em conta a experiência dos seus “clientes”. Tenho um seguro de saúde e a minha seguradora nunca me perguntou a minha opinião sobre os serviços de saúde de que beneficiei. Já agora, também sou, como todos nós, beneficiário do SNS e não considero o voto como uma forma de o Ministério da Saúde saber o meu grau de satisfação relativamente aos seus serviços. Também não me chegam inquéritos com amostras “representativas”. O que sugiro é de facto um processo em que todos participemos na avaliação da qualidade do serviço que pagamos e assim contribuir para uma efetiva melhoria dos serviços.