LUÍS LOPES PEREIRA  

 

A INVESTIGAÇÃO EM SAÚDE É VITAL PARA PORTUGAL – Existe uma ideia pré-concebida de que o nosso sistema de saúde é sustentável e apresenta indicadores de elevada qualidade, postos à prova com a pandemia. Essa perfectiva, que acredito ser sincera por parte dos cidadãos quando opinam sobre o SNS e sobre a oferta existente nos cuidados de saúde, também deve ser abordada num ponto de vista mais estratégico.  Até agora Portugal tem importado a inovação tecnológica desenvolvida noutros países e que entra no nosso mercado para ser manuseada por brilhantes profissionais de saúde que vão utilizando com sabedoria essa tecnologia para melhorar e salvar a vida dos portugueses. A questão é que não existem de facto mecanismos que tenham permitido nas últimas décadas fazer parte da cadeia de valor da Investigação & Desenvolvimento (I&D) e na produção de soluções na área da saúde. Mais do que os brilhantes cérebros que produzimos nas universidades, que muitas vezes vão investigar noutros países, creio que temos urgentemente de introduzir nos nossos processos de trabalho a necessidade, ou melhor, a obrigatoriedade de investigar, como forma de manter e desenvolver as carreiras dos profissionais no setor da Saúde, de valorizar o que outros importantes players, como universidades, indústrias e fornecedores de serviços trazem para a saúde. Desta forma, integrando a cadeia de valor de aquisição de conhecimento na saúde, poderemos desenvolver em paralelo outros setores e tornar a Saúde num setor não deficitário. Temos muitos exemplos à nossa medida, tirando os grandes países, como a Irlanda e a Suíça, que se especializaram em dispositivos médicos específicos, apresentando uma balança comercial positiva no que toca a produtos de saúde, onde todos os que participam no setor da Saúde são corresponsáveis ao participarem na investigação, na avaliação e na criatividade inovadora de novas soluções. Além da introdução no mercado dessas soluções, a própria avaliação das mesmas, ou seja, a investigação pura, consiste num mercado potencial não explorado em Portugal à proporção do nosso conhecimento, das nossas capacidades e das nossas estruturas. Os dados atuais indicam que desenvolvemos ensaios e estudos clínicos em quantidade pouco significativa para um país poder fazer parte do grupo dos que de facto entram na cadeia de valor do conhecimento em saúde. Segundo a World Health Organization, a Europa terá quase triplicado o número de ensaios clínicos efetuados nos últimos 15 anos. As estatísticas do Infarmed apontam no mesmo período para uma subida de 147 para 155 ensaios autorizados, ou seja, Portugal não acompanhou o crescimento, apresentando uma média de cerca de 44 dias para autorização dos mesmos, que não sofreu melhorias significativas. O próprio sistema de saúde não criou incentivos para que o setor aumente a produção neste campo.  São os países com melhores sistemas de saúde quem se encarrega da investigação em saúde na Europa, e este quadro só mudará quando ganharmos a consciência de que temos todas as razões para acreditar que podemos ser competitivos. Falta liderança, coragem e vontade para implementar o que todos nós, cidadãos e consumidores de bens e serviços de saúde, já sabemos para entrar a sério no campo da I&D. Essa ausência pode vir a ser um calcanhar de Aquiles no nosso sistema de saúde no futuro. 

 

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