ANTÓNIO CARMONA RODRIGUES

LIBERDADE de EXPRESSÃO – Tempo de esperançaEstamos ainda em tempo de novo ano, com esperança num mundo melhor à nossa volta. Dentro do extenso menu de preocupações e de problemas que herdamos do ano anterior, apresentamo-nos sempre nesta altura com alguma expectativa, ou fé, em que algumas dessas preocupações sejam ultrapassadas ou pelo menos reduzidas.  Creio que faz parte do nosso dia-a-dia a diferença de opiniões, o que é natural e salutar. Não há praticamente nenhum assunto que não divida a chamada opinião pública que, como alguns relembram, não é sempre igual à opinião que se publica. Certamente que um dos valores que se apregoou como uma das principais conquistas da revolução de Abril foi a liberdade de expressão. Apesar de pensar que ela existe, de um modo geral, deve-nos preocupar a referência que surge com alguma frequência a situações que evidenciam certas vontades e acções de condicionamento ou de pressão sobre o exercício de liberdade de expressão. Por vezes, essa liberdade de expressão é toldada por formas porventura mais consentâneas com o que alguns apelidam de libertinagem de expressão, sem ética ou verdade. Talvez por isso, a que se associa uma certa crise decorrente da crescente e concorrente utilização das redes sociais para acesso à informação, se venha a falar, com alguma regularidade, de uma situação algo crítica na comunicação, tendo inclusivamente merecido recentemente um alerta de preocupação que veio do mais alto magistrado da nação. 

Divisão ou convergência-Poder-se-á dizer que o que vende mais é justamente a divisão e não a convergência de opiniões. Mas preocupa-me constatar que, em muitas situações que são da maior importância para o nosso país, não haja com mais frequência essa convergência em vez da divergência ou antagonismo. Para o comum das pessoas, é difícil compreender porque é que passam os anos e não se conseguem consensos em matérias tão importantes como a saúde, a educação, a segurança social ou a justiça. A culpa desta realidade será atribuível à comunicação, ou antes a muitos atores políticos que, em muitos casos, parece que buscam mais o destaque da sua imagem, pessoal ou corporativa, do que o bem comum? Ultimamente tem estado em voga acusar alguém de populismo, sempre com uma intenção bastante pejorativa. Ora, o populismo é todo um conjunto de abordagens políticas que deliberadamente apelam para “o povo”, muitas vezes justapondo esse grupo contra a chamada “elite”. Poucos políticos ou grupos políticos se descrevem como “populistas”, apesar de termos bem presente o quanto a maioria dos políticos sempre gostou de falar para o povo e em nome do povo. 

Poder da informação-Porque é que há certos países que quase nunca são notícia? Muito provavelmente porque as coisas por lá correm normalmente bem, como se costuma dizer. Não haverá debate e confrontação política? Há com certeza, mas o que vemos é que em muitas das preocupações fundamentais para as pessoas foi possível encontrar soluções a contento de quase todos e de forma duradoura. Mas nesses países não existe seguramente, por exemplo, este espetáculo degradante e empobrecedor de múltiplos programas diários nos canais televisivos, em prime time, sobre uma única modalidade desportiva, por mais importante que possa ser. O papel da comunicação, em especial a que é paga com os impostos de todos nós, tem de ser outro, desde logo pelo respeito para com os cidadãos e pelo papel que essa comunicação pode e deve ter para uma sociedade mais forte do ponto de vista cívico. Não quero acreditar que alguém não pretenda contribuir para isso, apesar de saber que a natureza humana pode, por vezes, ser maquiavélica.   Também não gostaria de entrar naquele tipo de discussão sobre se neste ou naquele momento o país está melhor ou pior. Já sabemos que alguém se encarrega disso, em função de estar do lado A ou do lado B do ponto de vista das suas simpatias, ou antipatias, políticas. Gostava, principalmente, que houvesse muito mais pessoas que estivessem, acima de tudo, do lado P, de Portugal. Tenho sempre esperança num ano melhor que o anterior. Tenho uma renovada esperança na nossa juventude e nas suas capacidades que tantas e tantas vezes mostram pelo mundo fora que estamos entre os melhores em vários domínios, como por exemplo no desporto, na economia, na engenharia ou na medicina. Mas tal como se costuma dizer que a sorte dá muito trabalho, também temos de trabalhar muito para conseguirmos mais e melhor. É simpático termos hoje uma realidade turística que tem ajudado a promover a imagem do nosso país, mas não podemos ter um país que não cria as condições necessárias para que os nossos jovens arranjem um emprego dignificante ou uma habitação acessível. Entre muitos outros objectivos, temos seguramente que garantir uma educação forte para termos um país cada vez mais preparado, competitivo e sustentável. E a educação não pode ser sinónimo de facilitismo e de irresponsabilidade. Preocupa-me a questão demográfica da desertificação ou abandono de uma parte do território, mas acredito que possa haver uma generalizada atitude cívica de solidariedade para seja possível encontrar as melhores formas de garantir uma coesão social, territorial e económica. Para tal, é necessário estar sempre atento aos sinais dos tempos, bem como às mudanças e reformas que em cada momento têm de ser feitas, para o bem de todos nós e dos que virão a seguir.