JOSE CARIA

AQUELES HOMENZINHOS VERDES DETESTÁVEIS

Portugal tornou-se num país de gnomos, peque­ninos, verdes, todos agarrados ao pote de ouro (que afinal nem é deles), e os portugueses continuam idea­listicamente a procurar esse mesmo pote no fim do arco-íris ou, pelo menos, ainda até há pouco tempo alimentavam a ilusão de que ele existia e que um dia seria a salvação para todos os seus males.

Se a cigarra e a formiga de La Fontaine ainda tinham alguma aura de encanto, o conto deste país rodeado destas personagens menores e de visão curta é uma tragédia, mais ainda quando começamos a perceber que os trinta anos de democracia afinal não servi­ram para nada. Esvaíram-se. O legítimo e esperado progresso civilizacional, na educação, na formação de novas elites, na procura de uma sociedade mais justa e equitativa, afinal não aconteceu.

Para todos nós ou até mesmo para uma criança, a representação gráfica da linha do tempo nada mais é do que uma recta onde evoluímos da esquerda para a direita. Se olharmos para Portugal, as últimas décadas assumem uma geometria circular, como se os gnomos tivessem forçado a linha a regredir. Tal como a síndro­me de desorientação do combatente, afinal andamos perpetuados no tempo, num círculo que nos leva sem­pre ao mesmo lado, ou seja, a nenhures.

Desta vez é a crise, da última já nem me lembro o que foi. Mas os detestáveis homenzinhos verdes lá continuam a protagonizar a voz da desgraça. O fado,o tão triste fado que, bem vistas as coisas, só podia ser português. Alguns desses gnomos até já julgáva­mos extintos, como um que reapareceu agora a afir­mar que era mais difícil fazer uma revolução armada em 1974 do que nos dias que correm hoje. Para os mais esclarecidos não passará de uma leviandade ton­ta, mas que encerra um perigosa irresponsabilidade. A história é pródiga em nos ensinar que atear um fogo é fácil, particularmente quando as mentes são facilmente manietáveis ou não existem elites suficien­temente fortes para as estruturar.

Portugal milita na ignorância. Não aquela motivada por falta de educação ou de oportunidades, mas so­bretudo a que é vincada por falta de valores, de cultu­ra, de motivação, de orgulho e de capacidade de fazer.

Os homenzinhos verdes manietam com facilidade. Mudam o invólucro do seu pote de ouro albardando as ilusões aos seus propósitos. Mas não são perso­nagens do imaginário. São reais, estão entre nós, go­vernam os destinos da Nação. Os portugueses conti­nuam agarrados à quimera, na esperança de que dias melhores virão. O pote continua a ser a ilusão no fim do arco-íris. Há quem diga que este amargo remonta a 1755, ao Terramoto, à “tida punição divina” que nos esmoreceu a capacidade de sermos e querermos.

A crise afinal nada mais é do que outro pretexto para legitimarmos a nossa mediocridade.

Oxalá não me venham a dar razão…