AQUELES HOMENZINHOS VERDES DETESTÁVEIS
Portugal tornou-se num país de gnomos, pequeninos, verdes, todos agarrados ao pote de ouro (que afinal nem é deles), e os portugueses continuam idealisticamente a procurar esse mesmo pote no fim do arco-íris ou, pelo menos, ainda até há pouco tempo alimentavam a ilusão de que ele existia e que um dia seria a salvação para todos os seus males.
Se a cigarra e a formiga de La Fontaine ainda tinham alguma aura de encanto, o conto deste país rodeado destas personagens menores e de visão curta é uma tragédia, mais ainda quando começamos a perceber que os trinta anos de democracia afinal não serviram para nada. Esvaíram-se. O legítimo e esperado progresso civilizacional, na educação, na formação de novas elites, na procura de uma sociedade mais justa e equitativa, afinal não aconteceu.
Para todos nós ou até mesmo para uma criança, a representação gráfica da linha do tempo nada mais é do que uma recta onde evoluímos da esquerda para a direita. Se olharmos para Portugal, as últimas décadas assumem uma geometria circular, como se os gnomos tivessem forçado a linha a regredir. Tal como a síndrome de desorientação do combatente, afinal andamos perpetuados no tempo, num círculo que nos leva sempre ao mesmo lado, ou seja, a nenhures.
Desta vez é a crise, da última já nem me lembro o que foi. Mas os detestáveis homenzinhos verdes lá continuam a protagonizar a voz da desgraça. O fado,o tão triste fado que, bem vistas as coisas, só podia ser português. Alguns desses gnomos até já julgávamos extintos, como um que reapareceu agora a afirmar que era mais difícil fazer uma revolução armada em 1974 do que nos dias que correm hoje. Para os mais esclarecidos não passará de uma leviandade tonta, mas que encerra um perigosa irresponsabilidade. A história é pródiga em nos ensinar que atear um fogo é fácil, particularmente quando as mentes são facilmente manietáveis ou não existem elites suficientemente fortes para as estruturar.
Portugal milita na ignorância. Não aquela motivada por falta de educação ou de oportunidades, mas sobretudo a que é vincada por falta de valores, de cultura, de motivação, de orgulho e de capacidade de fazer.
Os homenzinhos verdes manietam com facilidade. Mudam o invólucro do seu pote de ouro albardando as ilusões aos seus propósitos. Mas não são personagens do imaginário. São reais, estão entre nós, governam os destinos da Nação. Os portugueses continuam agarrados à quimera, na esperança de que dias melhores virão. O pote continua a ser a ilusão no fim do arco-íris. Há quem diga que este amargo remonta a 1755, ao Terramoto, à “tida punição divina” que nos esmoreceu a capacidade de sermos e querermos.
A crise afinal nada mais é do que outro pretexto para legitimarmos a nossa mediocridade.
Oxalá não me venham a dar razão…