Portugal está transformado num imenso campo de “matar” e o alvo somos todos nós. O Governo definiu um perímetro o mais abrangente possível, que toca todas as áreas da sociedade, e as ordens são: disparar primeiro, explicar ou justificar depois se necessário. O móbil da ação é arrecadar dinheiro a todo o custo, o álibi é a troika, o leitmotiv assenta na lógica de que os fins justificam todos os meios. Este Governo está a transformar o Estado numa máquina que “mata por instinto” e quer que os cidadãos reajam de uma forma “pacificamente democrática” à destruição das suas vidas. Mas o risco maior é que a máquina está a ganhar vida própria, descontrolada, sem governo, alimentada por grupos de pressão que diluem e ofuscam qualquer Poder central de controlo e fiscalização. O próprio Governo espartilha-se em células separadas em duas linhas fractárias: ou mortas (Cultura, Economia, entre outras) ou autónomas (Finanças, Educação, Saúde) sem qualquer partilha de responsabilidade ou governação. Caminhamos a largos passos para um estado de minority report (lembram-se do filme com Tom Cruise, em que o criminoso era apanhado mesmo antes de ter cometido o crime?) e esta analogia é possível só com uma nuance: é que hoje, nesta lógica que está subjacente, todos somos potenciais criminosos e a margem de erro é brutal. Nunca Portugal terá sentido um abalo tão grande nos fundamentos mais básicos da sua Democracia. Atenda-se a alguns exemplos para que este discurso não soe vago: o caos e a crispação que se vive na Educação, cujo vetor de orientação é a racionalidade financeira, e alunos e professores são ignorados. O caos que se vive na Saúde, em que o Estado bateu no fundo, a contratar profissionais a dois e três euros por hora. O excesso de polícia na rua como nunca antes visto (principalmente GNR), mas com uma atuação já não disfarçável, em que a segurança deu lugar a uma desenfreada caça à multa. A atitude persecutória das Finanças, que vai ao detalhe de introduzir injustificáveis alterações de forma nas declarações de IRS, conseguindo dilatar os prazos de reembolso. Estes são alguns, entre milhares, e no entretanto a derrapagem do controlo financeiro do Estado sobre o próprio Estado aumenta exponencialmente todos os dias. Passos Coelho mudou e ainda está convencido que continua a governar para os portugueses. Mas já não está. A nossa democracia está profundamente abalada e quem tem poderes para a fiscalizar ou não faz ou não quer fazer. Basta olhar para o Parlamento. Os mesmos que têm esse dever expresso passam as manhãs nas suas empresas a fazer aquilo que à tarde vão fiscalizar. E acham que uma simples declaração de interesses legitima a sua maneira de estar e atuar. É que este é o último patamar. Daqui para a frente a máquina toma conta do país e começa a elaborar os seus minority reports. Amanhã vamos ver quem são os próximos visados: médicos, professores, militares, profissionais liberais… é que já poucos restam.