JOSÉ CARIA

Foto FrontlineSINAIS DOS TEMPOS

Faz agora oito anos que o Armando Nuno Carneiro me lançou o desafio de escrever num novo projeto editorial. A FRONTLINE acabava de nascer e esse desafio mantém-se hoje vivo e responsável como no dia em que entreguei o texto para o primeiro número da revista. Li e reli muito do que escrevi ao longo destes anos. Críticas, parábolas, elogios, mas sobretudo olho para muita coisa que gostaria de não ter escrito se a razão e os factos vividos, em consciência, a tal não me tivessem obrigado. Teria sido sinal de que muitas coisas estariam melhores neste país. Este mesmo país que hoje olho e, compulsivamente, reflito sobre os mesmos sinais que mais me parecem retirados de uma qualquer comédia de Dante. Um país onde o primeiro-ministro foge às suas obrigações contributivas e diz que não sabia que o tinha de fazer. Um país onde o Presidente da República decide inaugurar uma tribuna partidária em detrimento do exercício da representação pluralista de todos, todos, os portugueses e onde imperam estranhos silêncios. Um país onde a Justiça prende um ex-primeiro-ministro, numa clara encenação mediática e onde reina a constante violação das mais elementares normas de segredo, mas é incapaz de assegurar um regular e condigno funcionamento ao mais humilde dos cidadãos. Um país, onde é preciso morrer de uma doença controlável como a hepatite para que o Estado se decida a comprar medicamentos que podem salvar essas vidas ou onde um inverno mais rigoroso e um anormal surto de gripe põem a descoberto todas as fragilidades de um Sistema Nacional de Saúde. Ou até mesmo, um país que se atravessa em escassas horas, de fio a pavio, onde é preciso pagar complementos financeiros a médicos para exercerem fora dos grandes centros urbanos. Um país que integra uma Europa politicamente fragilizada e que face a uma crise financeira, a sua ministra das Finanças opta por se tornar o carrasco-mor de um outro país em situação semelhante, quando deveriam imperar valores de ajuda e solidariedade. Uma nova realidade em que até já os pobres tentam “escravizar” os mais pobres. Um país onde o caos da Educação levou a uma contestação sem memória e sem precedentes, juntando professores, escolas, pais, alunos, sindicatos e associações representativas do setor. Um país onde os mais jovens emigram e os mais velhos vêm-se obrigados a regressar a casa dos pais. Não foi este o país onde nasci, não foi este o país que os meus pais me legaram, não é este o país que quero legar aos meus filhos. Ao longo destes últimos oito anos esgotei muitas das minhas palavras nesta luta por um Portugal melhor. O que me resta fazer a seguir?