Confesso que, para mim, e penso que para a generalidade dos portugueses, hoje nos é completamente indiferente se a Fräulein Maria Luís foi bajular o ministro das finanças alemão, se alinhou na defesa de uma negociação de intransigência para com a Grécia ou se está a preparar o seu futuro no BundesBank. O que me interessa saber, e aí Herr Passos Coelho deve explicações ao país, é se as posições que os nossos responsáveis políticos assumiram defendem os interesses nacionais e dos portugueses ou se, antes pelo contrário, defendem interesses partidários na mais elementar lógica da sua sobrevivência política. Sem prejuízo de toda a discussão que se instalou em volta desta questão e da retirada de dividendos que cada um quer fazer por si, a leitura óbvia desta exacerbada ação punitiva que, leia-se, determinada União Germânica quer fazer contra a Grécia, mais não é do que uma ação de impedir o despertar de consciências para um modelo de governação que falou em toda a linha da frente. Para o “egoístico establishment” alemão, o governo grego do Siryza mais não representa do que uma perigosa anarquia, mas, como já aqui escrevi, a anarquia, per si, não gera o caos, antes pode contribuir para instituir uma nova ordem como instrumento de exercício crítico contra doutrinas políticas de cariz absolutista como a que Portugal vive hoje, imposta por uma Europa que não conhecemos e que definha dia após dia. Porque, não esqueçamos que não é só no caso da Grécia, de Portugal ou de Espanha que se vive a incapacidade de resposta política desta União Europeia. A mesma incapacidade manifesta-se quando a Europa tem revelado uma cega obstinação para intervir numa guerra civil deflagrada no seu seio, deixando a Ucrânia à mercê de uma lógica separatista cuja filiação deveria inspirar grande preocupação. Ou será que um dia a História nos trará revelações surpreendentes de acordos feitos com Putin face à manifesta aproximação russa a esta nova Grécia? A verdade é que, e dito de uma forma simbólica, no despertar de consciências despoletado pelo Siryza, se olharmos para um futuro não muito longínquo, afiguram-se dois caminhos no horizonte: ou esta Europa se fragmenta, ou a Alemanha integra-se de direito, como Estado-membro sem pretensões hegemónicas, numa nova ordem, política, económica e social. Em qualquer dos cenários a senhora Merkel já percebeu que sairá numa posição perdedora. Resta saber para que lado Passos Coelho quer arrastar os portugueses. E é essa resposta que os portugueses lhe exigem.