JOSÉ CARIA

UntitledO CRATÁRIO

Se houve momentos em que tivemos esperança, hoje, má fortuna nossa, temos a pior das certezas. Falo de quê? Da Educação, dessa mesma Educação que nunca conhecerá a sua redenção no nosso país, atolada num calvário que perdura há já 40 anos mas que, nestes últimos três, assumiu proporções inimagináveis. Haverá quem diga que já não é um calvário, mas sim um Cratário. Na realidade, aquilo a que assistimos este ano em mais um arranque do ano letivo ultrapassa as fronteiras mais recônditas do absurdo, da incompetência, do desrespeito por toda a comunidade educativa. É verdade que a Educação em Portugal é um monstro e que pouco ou nada se tem feito, do ponto de vista das reformas estruturais, para o mudar. Também é verdade que o monstro não é filho de Crato, mas este ministro e a sua equipa do Ministério da Educação acabaram por parir um bastardo, conseguindo por inércia, atropelo, incompetência e más decisões políticas, potenciar ao máximo a ineficácia e a inércia do sistema educativo. Aquilo a que assistimos este ano em matérias como vinculação e colocação de professores é inacreditável, chegando o ministério a atropelar a sua própria legislação, criando mecanismos artificiais – até na própria plataforma informática de gestão de todos estes processos – para, por exemplo, invalidar aquilo a que está obrigado por decisões judiciais europeias a fazer. É perverso… E em todo este processo nem os próprios sindicatos estão isentos de culpa, pois a crescente politização da “luta” que protagonizam na Educação pouco ou nada tem a ver com as legítimas aspirações dos professores e outros agentes educativos, mas sim com estratégias políticas mais subordinadas a afirmações partidárias. É verdade que todos sabemos que a raiz do problema na Educação vem de longe e é estrutural. Temos consciência de que existem professores a mais num sistema que não terá capacidade para os absorver. Todos sabemos que no final da década de 90 o paradigma tinha de ser alterado: abandonar a alfabetização dominante do pós-25 de Abril em prol da qualificação do ensino em Portugal. Também é verdade que assumimos os pressupostos e temos assistido a inúmeras tentativas de reforma na Educação. Mas, na verdade, mudámos na forma mas não na mecânica e continuámos a injetar no sistema milhares de professores que já não faziam falta, como se a primeira necessidade ainda fosse alfabetizar metade da população portuguesa. Na verdade, ninguém teve ainda coragem política para protagonizar a verdadeira reforma estrutural da Educação em Portugal. Com exceção, talvez, para Maria de Lourdes Rodrigues, que pelo menos ousou falar nela.

PS: Quero aqui deixar uma referência, que hoje se torna obrigatória, para um professor que ao longo dos anos tem dado um contributo inestimável na defesa da Educação. Trata-se do professor Arlindo Ferreira. Vale a pena seguir o seu blog: www.arlindovsky.net/