JOSE CARIA

UntitledMARKETING SÉNIOR

Marketing Sénior! Brutal! Sénior? Que desperdício… marketing para os velhinhos. E por aí fora. Cada dia que passa, acordo mais perplexo com a manifesta incapacidade de os agentes deste país – políticos, económicos, sociais e não só – perceberem, mas sobretudo acordarem (o que já deviam ter feito há muitos anos atrás) para o devir de transformação da nossa sociedade, que vai provocar uma rutura abrupta na forma como nos organizamos e vivemos. Sejamos realistas, falemos do ageing, do envelhecimento ativo, da realidade com que vamos viver, com particular incidência, daqui a 10 anos em Portugal, quando hoje mais de 50% da nossa população já está acima dos 45 anos de idade. Será que estamos preparados para enfrentar esta nova realidade? De todo, não. Não vou explanar sobre a problemática em toda a sua transversalidade e produção de efeitos colaterais, desde as necessárias novas políticas de urbanismo – como bem frisaram Manuel Salgado e Fernando Santo no último debate da FRONTLINE, Portugal 2030 – até áreas como a saúde, o emprego ou as relações intergeracionais. Vou apenas olhar para o marketing e para as marcas, sejam produtos ou serviços, mas sem antes fazer uma declaração de interesse, pois é uma das minhas áreas de intervenção profissional. E neste contexto, afirmo convicto que, salvo raras exceções, a generalidade das marcas em Portugal anda a correr em corredores ao lado, revelando uma manifesta incapacidade de perceber a nova realidade sénior em Portugal, reféns ainda do conceito doutrinário muito vincado por uma terminologia sociológica, determinada por segmentação etária, do velhinho, sem capacidade económica, reformado e de reduzidos níveis motivacionais e aspiracionais. Urge inverter esta lógica, urge abandonar a segmentação etária e trabalhar o campo das motivações. Os 30 anos dos nossos pais são os 50 anos de hoje. Os Goodlifers, enquanto conceito, são a base da nova matriz da senioridade da nossa sociedade – pessoas com 50 ou mais anos, focados em aproveitar cada vez mais a vida, embora apresentam alguma preocupação com a saúde (leia-se bem-estar). Contudo, o foco do consumo está no prazer e não na saúde. Estamos a falar de pessoas tendencialmente urbanas, ativas, cheias de energia, que aproveitam a vida, com poder aquisitivo e interessadas em cultura, ecologia, entretenimento e que dominam a tecnologia. Em pouco anos, esta será a trave-mestra de suporte da nossa sociedade, económica e sociologicamente. E o pressuposto base de aumento da esperança de vida consolidará, com maior ou menor ajuste, a sua matriz de valores prolongada no tempo por mais 30 anos de vida. Quem hoje ainda não percebeu esta nova realidade e continua só a apostar nos jovens, já perdeu o comboio. É que os Goodlifers correm na vida muito mais depressa do que alguém o conseguiu fazer até hoje. Mesmo no folgo da juventude.