Como diz o povo, tudo tem a importância que se atribui. Por isso mesmo dividi-me quanto ao escrever e abordar este assunto – que no mínimo posso adjetivar de ridículo, caricato, mas também perigoso – na minha crónica regular na FRONTLINE. Em abono da verdade já nem me lembrava que existia Festival da Eurovisão, mas por mero acaso de zapping, acabei, na noite em que foi transmitido, de passar pela RTP e confrontar-me com uma mulher barbuda a cantar em palco. Confesso que ao princípio não percebi o que se passava e pensei que fosse um sketch mais ao jeito dos Gato Fedorento ou alguma atração bizarra ao jeito do parque de diversões móvel que também conta com uma mulher barbuda na série de televisão norte-americana “Carnivàle”, passada durante a Grande Depressão, entre 1934 e 1935. Mas o misto de incredulidade foi bem maior quando percebi que a dita senhora, talvez lhe prefira chamar um ser híbrido, estava na realidade a representar a Áustria no Festival da Eurovisão. E rapidamente este sentimento deu lugar a uma vaga mais profunda de preocupação quando me fui apercebendo de que a dita senhora barbuda iria, como veio a acontecer, a ganhar o dito festival e até com os votos de alguns portugueses. Nada me move contra a homossexualidade nem à escolha sexual que cada um faz. Tenho amigos homossexuais e nunca por eles perdi o respeito com pessoas, como também nunca eles se fizeram por perder esse respeito, individual e de toda uma sociedade que, na sua liberdade democrática, respeita as escolhas pessoais. Agora, aquilo a que assistimos nesta noite de eurovisão foi a um espetáculo degradante de um crepúsculo de decadência moral que começa a atravessar a Europa. Até pelos próprios artistas que concorreram, ficou claro o desrespeito que todos estes milhões de crepusculares cidadãos europeus a caminho da decadência moral revelaram, quando se perceber que a vitória barbuda nada teve a ver com o valor artístico que cada um dos concorrentes mostrou. A Conchita até podia não saber cantar, que ganhava à mesma. Mas mais preocupante será o que muitos movimentos gay (não confundir com homossexuais) pensam hoje, convencidos de que obtiveram um grande triunfo para a sua causa de “libertação”, quando a verdade contrária é mais evidente: momentos destes só contribuem para acicatar mais os ânimos e extremar radicalismos. Como se explica a uma criança que uma mulher barbuda, que afinal é um homem, mas quer ser uma mulher, ganha um prémio a cantar? Ou se ridiculariza a situação, ou se explica que aquele é um mal a evitar. Não vejo mais caminhos nem mentes elucidadas que possam adivinhar outras explicações. Agora, com uma certeza fico. A Conchita que se quis fazer consagrar como universal só causou danos àqueles que supostamente deveria defender. Todos os outros, enfim, nós, amanhã já não nos lembraremos dela ou dele, como tido por conveniente. Pode ser que reste para a história que a Barbie venha a lançar uma boneca com barba. A moda, sabemos nós, sempre foi um mundo à parte…