JOSÉ CARIA

CGM 1/84

Há meia dúzia de dias atrás, fui a um almoço, aliás, a muito mais do que um almoço, a uma forte lição de valores e de camaradagem. Passados 30 anos, reunimos aquele grupo de jovens garbosos, à altura com 20 anos, que no dia 19 de fevereiro de 1984 cruzaram a entrada da Base Escola de Tropas Paraquedistas, em Tancos, para frequentarem o curso de oficiais e sargentos milicianos CGM 1/84. Éramos jovens, éramos voluntários, tínhamos sonhos, tínhamos projetos e acreditávamos no futuro que se estendia à nossa frente neste país. Todos tivemos sortes diferentes, destinos e rumos diversos, com vitórias, com frustrações, com justiças mas também vítimas de injustiça. Mas sobretudo tínhamos algo que muitos jovens hoje parecem não ter, muitos desses provavelmente os nossos filhos, e falo desse mesmo futuro neste país. Em 30 anos muita coisa muda… é verdade. Mas o nosso mal é que, mais do que tudo, mudaram as pessoas, e ao fim deste percurso de vida é triste enfrentar uma realidade em que achamos que as pessoas mudaram para pior. Já nem SMO existe – e para os que desconhecem o termo significa Serviço Militar Obrigatório –, como se de repente metade do país se tivesse tornado objetor de consciência, mesmo muitos desconhecendo o que isso significava. A tropa não é um mal necessário dos ventos de guerra, mas sim uma importante escola de valores e formação de caráter em tempos de paz. A minha, como a dos meus camaradas de curso, também deve ser das últimas gerações em que quase todos os nossos pais foram militares e foi essa sólida formação de valores que nos fez homens e nos levou 30 anos depois a desejarmos, com saudade, reencontrar-nos. Como escreveu o José Soares, que aqui faço por citar, “foi um orgulho poder reunir os camaradas que estiveram presentes na confraternização do 30.º Aniversário do CGM 1/84. Foi possível rever amigos com quem partilhámos, há 30 anos atrás, bons e duros momentos e que a cada e de forma diversa nos marcaram indelevelmente para todo o sempre”. Provavelmente sou suspeito para falar, pois sou filho de militar, ex-aluno do Colégio Militar e cumpri serviço militar. A formação de caráter não é exclusiva do meio castrense, mas a verdade é que esteve presente na formação de jovens gerações e gerações deste país até há alguns anos a esta parte. Imperavam valores de ajuda, partilha, camaradagem e uma enorme tenacidade em vencer, mas não havia espaço para egoísmos, individualismos, mediocridades ou vitórias gritadas à custa de sacrifícios de outros. Nos tempos que correm olho à volta, olho para as pessoas, olho para a nossa classe política e infelizmente constato que ser ministro da Defesa pode ser para todos, mas que cruzar o portão da BETP continuará a ser sempre só para alguns. Hoje mais do que nunca.