Quem assistiu, mas com um olhar (humanamente) mais atento, ao mal conseguido ensaio político-discursivo da conferência de imprensa de apresentação do Orçamento do Estado para 2014, percebeu claramente o “indisfarçável gozo” da ministra das Finanças. Diria mesmo um gozo quase masturbatório, mas não um gozo no mau sentido da palavra. Um gozo alicerçado numa sensação de poder, de vitória política, já não de sobrevivente, como foi a sua condição limiar há alguns meses atrás, mas sim de figura primeira da governação nacional. Maria Luís vive hoje as suas “50 sombras de Grey” num ensaio de sadomasoquismo político e pessoal. Maria Luís está a fazer mal aos portugueses, mas resta saber se tem consciência do autoassassínio político que está a promover à sua pessoa. Portugal poderá sobreviver a este momento difícil, a generalidade dos portugueses certamente não, e a ministra muito menos. E é aqui que as coisas deixam de fazer sentido e, por isso mesmo, não se percebe a arrogante persistência de insistir num rumo que, nos últimos três anos, apenas se traduziu num sucessivo e brutal aumento do patamar de austeridade, sem se vislumbrar qualquer solução à vista para os nossos problemas estruturais. A própria frieza calculista que é reconhecida à ministra já não esconde a sua falta de convicção no caminho que está a seguir ou a ser seguido, poderiam afirmar alguns. Mas esta segunda premissa não é válida. A “fiel Gasparina” conduz um exercício sádico para o país, mas na plena convicção de que está no rumo certo. A realidade que vive é insípida e apenas preenchida pela lógica dos números e dos resultados finais que, esses sim, lhe foram impostos. A ministra não governa para os portugueses nem pelos portugueses, mas sim por um Portugal artificialmente desenhado numa necessidade de sobrevivência de uma Europa determinada em justificar a validade das suas teses para esconder a fragilidade e mediocridade política dos seus líderes. Daqui a exacerbação de poder de Maria Luís. A ministra sente-se intocável e não existe qualquer lógica de sacrifício pessoal ao protagonizar “um mal politicamente necessário” para salvaguarda futura do seu país. Nem tão-pouco qualquer resquício de masoquismo ao protagonizar este papel de difícil compreensão para a generalidade dos portugueses. Maria Luís não está imbuída de um espírito de missão, mas sim unicamente determinada em cumprir rácios, metas e números, sem questionar a sua validade ou implicações futuras. Porque sabe que enquanto esta Europa prevalecer haverá sempre lugar para si. Afinal, as “50 sombras da ministra” são bem mais iluminadas do que o futuro que nos espera enquanto portugueses.