UM ZACATRÁS POR PORTUGAL
Há poucos dias voltei a pisar todas aquelas lajes “impregnadas” de tradição dos claustros do Colégio Militar. A ocasião repete-se entre tantas outras que encerram o mesmo significado, desta feita o assinalar dos 30 anos de saída do meu curso. Mas não são momentos que se reduzem, na sua carga simbólica, a rever as caras e os caminhos que percorremos juntos durante longos anos da nossa adolescência. São e serão, cada vez mais, momentos de reflexão, de olhar para o futuro, pois a instituição regenera-se sempre que as suas sucessivas gerações colegiais voltam a cruzar as suas portas. A tónica do discurso aponta fatalmente para uma realidade crucial mas que, a cada dia que passa, se torna mais áspera neste país. Se o Colégio Militar é hoje uma referência incontornável no nosso país, tal não se reduz à dimensão histórica dos seus mais de 200 anos de existência, à carga simbólica de ter dado quatro presidentes da República a Portugal, mas sim ao facto de sempre ter sido uma escola de formação de elites, no sentido mais nobre do termo. Elites que não só são um dos suportes fundamentais da instituição como, pela sua transversalidade de atuação no tecido económico, social, cultural, castrense, entre muitos outros domínios, tem contribuído para a construção de um país melhor, de um Portugal com futuro.Porque este, como já várias vezes o escrevi, é o problema maior que o nosso país enfrenta, a falta de elites, de referências, de espaço aberto de reflexão, de diálogo, deconfronto de ideias, de consolidação de valores, mas também com força para corrigir assimetrias, excessos e legitimações de atuação que hipotecam o presente e o futur das nossas gerações vindouras. São estas mesmas elites que o poder político, fundamentalmente o alicerçado em concepções doutrinárias que reciclam modelos marxistas e socialistas a cada falhanço que a pródiga história da humanidade nos permite conhecer a avaliar na sua plena dimensão, tem, ao longo destes últimos 30 anos de democracia, perseguido, tentando cercear a sua capacidade de intervenção. Porque a esse poder político interessa sobretudo a massa intelectualmente disforme que se tem vindo a cimentar neste país, aculturada, pronta a respostas meramente emotivas, sem tentar descortinar a sua natureza ou as consequências da sua adesão. Quase como se vivêssemos uma lógica de ação política baseada numa pirâmide de Maslow invertida. Portugal precisa de elites, precisa de mais instituições de ensino que formem elites, precisa de uma sociedade que se reveja nas suas elites, precisa de um poder político que entenda as elites como um factor de coesão para o seu exercício político. Passos Coelho e os seus pares têm aqui uma oportunidade única para inverter o “estado das coisas”, para que esta espiral incontrolável de vazio humano não se torne irreversível. Gostava um dia de poder gritar na rua “Por Portugal…Zacatrás”, não na esperança de que me respondessem da forma que só nós alunos do colégio sabemos, mas na esperança de que, cada um, à sua maneira, gritasse com empenho e determinação que este Portugal para vir será um Portugal melhor.