JOSE CARIA

OUTROS VALORES MAIS ALTOS

Nos tempos que correm, cada vez mais assumo como um privilégio o facto de ter sido educado numa instituição chamada Colégio Militar, particularmente pela referência de valores que a todos nós, Meninos da Luz, nos deu para a vida. “Um por todos, todos por um” sempre foi uma matriz referencial e um fio condutor de caráter, que perpetua para a vida e não apenas uma inscrição gravada em pedra ou papel que encerrava um qualquer simbolismo histórico perdido no tempo. O colégio ainda hoje vive alicerçado na certeza de que o espírito coletivo sempre prevalecerá sobre os interesses individuais na defesa dos valores que ajudem os que precisam e salvaguardem a instituição. Portugal também já foi outrora assim, e a nossa longa centenária história está pejada de narrativas onde o espírito coletivo e a afirmação da Pátria falaram mais alto e outros valores mais altos se levantaram. Mas essa mesma história também nos ensinou o momento exato em que nós, portugueses, perdemos o sentido patriótico de afirmação enquanto povo e enquanto Nação. Quando hoje olhamos para o presente, percebemos que a democracia que Abril de 74 trouxe a este país é ainda uma miragem, e a senda da liberdade acabou por deixar emergir uma exacerbação do individualismo e da cimentação de interesses próprios que, aliada a uma galopante incompetência da classe política, nos conduziu ao curro em que nos encontramos.Pela primeira vez desde que é Presidente da República, Cavaco Silva parece ter compreendido isto e, esperemos, que tenha sido esta a razão determinante para a sua decisão de não aceitar qualquer solução proposta ou reivindicada, avançando com uma solução própria para tentar resolver a grave crise política que Portugal atravessa.Entenda-se assim que Cavaco Silva subiu a parada política e finalmente arriscou e mais arriscou quando deixou bem a claro – e esta leitura é inequívoca – a incapacidade revelada pelo atual espetro político português de A a Z, sem deixar ninguém de fora. Mas é precisamente nestes momentos que é necessário arriscar e o Presidente da República assumiu finalmente o exercício do seu cargo em pleno, não mais do que os portugueses esperam dele.Mas esses mesmos portugueses, afinal todos nós, também não podemos agora libertar-nos da responsabilidade, passando o ónus para o Presidente ou para quem quer que seja. Afinal, os últimos responsáveis de o país estar assim, quem são? Quem tem legitimado pelo voto sucessivos falhanços políticos, sejam do PS do PSD ou do CDS? Quem se tem escondido à sombra dos erros, escolhendo o caminho mais fácil, o de criticar, mas sem coragem para se chegar à frente mesmo que isso obrigue a romper com o status quo vigente deste mascarado exercício democrático? Cada um que responda com o seu imperativo de consciência.