Westeros! A mítica terra de Westeros, palco de uma epopeia épica onde sete nobres famílias lutam pelo poder supremo materializado no trono de ferro. Ou posso chamar-lhe Lusitânia, ou até mesmo terras de Portugal. Nos Sete Reinos de Westeros, a ordem política, social e económica, de si já precária e vacilante, esvazia-se na guerra pelo poder, e as regras do jogo político são determinadas pelos mais fortes, mas que acabam por sucumbir, mesmo no seu seio, ao jogo de intriga, conspiração e conluio, numa roda de vassalos, conselheiros e cortesãs que empestam os círculos desse mesmo Poder. Da saga televisiva intitulada a Guerra dos Tronos, o decalque para a atual realidade portuguesa não é um mero exercício de devaneio imaginativo. Antes fosse, mas a complexa teia de uma história (que paradoxalmente redunda numa narrativa básica) onde o cimentar do caos constrói um alibi em que os fins acabam por justificar os meios, e as regras do jogo político ou as convenções sociais são anuladas pela cega determinação dos mais fortes em governar os destinos do seu mundo, tanto se aplica em Westeros, como os portugueses já perceberam hoje que é a realidade que lavra o seu quotidiano. Em Portugal também sete disputam o Trono de Ferro, disputam o destino do país independentemente das suas motivações e do significado próprio que cada um dá a esse trono: o Presidente da República, o Governo, a troika, o Partido Socialista, a Esquerda Política, o outro PSD e o outro PS, agora liderado por um reencarnado José Sócrates. Mas, ao contrário da saga épica, onde a distinção, embora muitas vezes ténue, entre o bem e o mal acaba por nos ancorar numa teia de personagens que vão permitindo clarificar esse caminho, o nosso quadro atual de país real mergulhou tão profundamente no caos, que passamos a viver como numa escala de cinzento, tudo o que restou de um universo sem cor. Essa cor que nos permitia fazer opções, pintar caminhos, participar, opinar, até mesmo decidir ou influenciar a decisão sobre o caminho que queríamos seguir. Na sua avidez, os sete pretensos reinantes ainda não perceberam que se algum dia chegarem ao Trono de Ferro, nada restará à sua volta senão terra queimada. Tanto em Westeros como cá. PS: Apenas uma nota curiosa – os Lannister, uma das casas nobres em disputa pelo poder em Westeros, são descritos como os grandes financiadores da Coroa, fisicamente todos louros e capazes de tudo para manter a pureza da sua linhagem, mesmo que tal implique acasalamento entre irmãos, prática mantida ancestralmente. Refutando as práticas, será que os traços nos fazem lembrar alguém?