O fenómeno foi efémero e o seu pico de notoriedade tão elevado como o abrupto abismo em que logo caiu. De seu nome Artur Batista da Silva, reconhecido Consultor das Nações Unidas e percussor do alegado Observatório para a Europa, o qual – por mérito seu, de Batista, entenda-se – seria sediado em Lisboa. O tempo de glória de Artur durou pouco mais de duas semanas, mas cirandou pelos mais altos círculos, com honra de horário nobre na SIC. Pergunta-se hoje porquê? Por ser um observador (cargo de relevância para um português) da ONU? Não, apenas simplesmente porque este papel veio conferir legitimidade ao seu trunfo: um discurso convincente, informado, bem articulado e sobretudo porque correspondeu, nestes tempos agudos de crise, a uma voz de alternativa, por oposição ao desgaste diário do mórbido diapasão do “aperta o cinto até não sabemos quando”, de inspiração social-democrata, mas ao qual já nem os socialistas conseguem fugir. Mas afinal quem é este Artur Batista da Silva, que virou um promissor salvador, um Robin Batista dos Bosques? Não é ninguém, porque mesmo o muito ou pouco que possa ter sido (e algumas ligações políticas foram-lhe reconhecidas) foi apagado e ofuscado pelo traço dominante: o de burlão. Mas a verdade é que, no imediato, ninguém se preocupou em indagar Artur, tal era a virtualidade do seu discurso que aparentemente todos “ansiavam” por ouvir. Aparentemente, só quando os poderes instituídos se aperceberam do perigo é que reagiram com a reconhecida virulência à ameaça do seu status e ao embuste claro que caiu por terra. A Artur, nem o laivo de Robin lhe acabou por ser reconhecido, mas o fenómeno merece-nos uma reflexão séria e mais profunda. E se a face de Robin de Artur tivesse vivido mais tempo? E se o embuste fosse mais sólido na sua arquitetura e durasse mais tempo? E se o discurso de Artur ou Robin fosse, a par da sua solidez e oportunidade argumentativa, menos crítico e mais incentivador da violência? Que reações poderia desencadear? Nuno Morais Sarmento disse um dia, acertadamente, que os maiores desafios que a nossa Democracia e o Poder Político enfrentam é não compreenderem nem saberem lidar com a nova realidade social que está a emergir em Portugal. O tabuleiro tem novos jogadores e já não só os eleitores, os partidos, os sindicatos, as confederações ou as associações. São finalmente as pessoas, com as suas novas dinâmicas estruturadas fora da lógica a que os políticos estão habituados a responder, a aliciar, a persuadir e a convencer. A Artur, talvez lhe possamos, pelo menos, reconhecer este mérito de alerta para quem não for avestruz e queira, mais uma vez, enterrar a cabeça na areia. Pena é que a sua face de Robin, sem Batista, dos Bosques se tenha desvanecido. Bem falta nos faz nos tempos que correm…