JOSÉ CARIA

DEUS, PÁTRIA, AUTORIDADE

O estado de exaltação mediática e o chorrilho despropositado de análises e comentários que rodearam os acontecimentos recentes frente à Assembleia da República, por força da última greve geral a que o país assistiu, causaram-me alguma perplexidade e a profunda convicção de que, como diz a voz useira, “anda muita gente a ver o filme ao contrário”. Os resquícios de violência nada mais passaram do que um fenómeno isolado, já identificado e caracterizado, que encontra as suas motivações numa amostra de motivações amorfas, quantitativamente marginal, apostada apenas em introduzir violência gratuita em manifestações públicas, sejam políticas, sejam desportivas, sejam de precários inflexíveis…Chegámos mesmo ao cúmulo, depois de uma intervenção irrepreensível por parte das forças de segurança, de uma organização como a Amnistia Internacional vir a exigir ao ministro da Administração Interna um inquérito à violência da atuação da polícia sobre os manifestantes, que só se explica numa tentativa de essa mesma organização reivindicar alguma visibilidade que não tem. Na verdade, comparar Portugal à Grécia, ou mesmo à Espanha, na espiral de violência que tem marcado aqueles dois países neste período conturbado em que atualmente vivemos, é um exercício de pura demagogia. Portugal não é assim, nunca foi e acreditemos que nunca será. Se existe algo que a nossa História secular nos ensinou é que os portugueses nunca foram um povo conformista, mas também nunca dado a violência gratuita. Um povo com traços singelos que nunca confundiu o exercício da Força e da Firmeza de afirmação das suas convicções com o exercício da violência, nem quando um Rei se viu obrigado a levantar armas contra a sua própria mão para afirmar um país, ou quando as metralhadoras tiveram de disparar cravos para mudar um regime. Portugal não é europeu, não é latino, não é de vocação africana. Portugal é um caso singelo de afirmação soberana de uma Nação que, reza a História, não a nossa mas a dos outros, nunca poderia ter existido. Mas neste percurso secular as verdades continuam imutáveis, construídas numa matriz que sempre permitiu expurgar o bem do mal, o Poder consentido do Poder imposto e a liberdade de escolher quando necessário: Deus, Pátria e Autoridade. E é esta afirmação de valores imutáveis que torna os portugueses um povo singelo, que nunca foi conduzido pelos acontecimentos mas sempre soube marcar o traço do destino enquanto Nação. E muitos ainda não perceberam esta afirmação de soberana vontade. No dia em que for preciso mudar, os portugueses mudam… sem terem de recorrer à violência ou a qualquer outra forma, mascarada ou não, de exaltação nacionalista.