JOSÉ CARIA

ORGANIZAÇÕES E AFINS…PARA NADA

 

Portugal é na realidade um país de multiplicidades estranhas. Recentemente, as fundações retiveram alguma atenção do debate público e, ao que parece, com razão, face ao descontrolo assustador da sua proliferação, não só pela questão da subvenção estatal e dos benefícios fiscais, como também pela razão de existência de muitas delas. Este debate chamou-me a atenção para outra perna perniciosa deste complexo organismo que são as organizações e outras estruturas afins, muitas delas privadas, é um facto, mas muitas outras pagas pelo dinheiro dos nossos impostos e com rácios de eficácia de gestão e de objetivos atingidos muito discutíveis, para não dizer duvidosos. A questão que coloco é o que poderíamos fazer aproveitando toda essa massa crítica (porque, sem prejuízo do atrás referido, ela existe) de uma forma eficientemente direcionada e com objetivos socialmente reconhecidos que contribuíssem para o desenvolvimento do país? De um extremo ao outro é fácil encontrar exemplos. Pergunto-me para que serve uma Amnistia Internacional em Portugal e se a generalidade dos portugueses sabem sequer que tal estrutura existe. É verdade que vive do contributo dos seus apoiantes e aderentes, mas se esses mesmos apoiantes e aderentes usassem a sua massa crítica e se direcionassem para causas de apoio social, de apoio aos deficientes, aos carenciados, não resultaria daqui um benefício muito mais estruturante, necessário e eficaz? Por outro lado, pergunto que sentido fazem estruturas como o Comité Olímpico de Portugal, que na sua atual configuração hiberna três em cada ciclo de quatro anos e custa milhões de euros ao erário público? Uma estrutura que nos últimos anos acumulou acrescidas responsabilidades no estado de hipoteca (sem passado e sem futuro) em que caiu o desporto de alta competição no nosso país. Não se trata aqui de julgar pessoas nem tão-pouco os responsáveis das citadas organizações. Aliás, conheço bem o presidente do Comité Olímpico, reconhecidamente um homem de uma inegável seriedade e dedicação ao desporto em Portugal. O problema é de uma profunda complexidade estrutural, de um país que quer ter tudo, como se tal fosse uma prova de senioridade civilizacional… (até temos um observatório para isto ou um grupo de acompanhamento para aquilo), e que só acaba por se enredar numa intrincada teia de interesses corporativistas, muitas vezes até de jugo pessoal, que resultam num desperdício incontrolável de recursos humanos e materiais, para além de um recorrente desfoque da missão e dos objetivos dessas mesmas organizações. Nesta lógica citei, de forma aleatória, dois exemplos que conheço, entre as centenas dos que já ouvi falar ou dos milhares que desconheço. São as fundações, as organizações para este ou aquele fim, os observatórios, os comités, os grupos de trabalho, os grupos de avaliação, as troikas… tanto para tão pouco, num Portugal que quase já nada tem e que politicamente insiste em tentar “aniquilar” os que ainda querem CONDIGNAMENTE trabalhar.