JORGE MOREIRA 

 O ENÓLOGO JORGE MOREIRA é um dos expoentes máximos da geração que revolucionou a enologia do Douro. Assume que a sua paixão e interesse por aprender e experimentar continua a mesma, abrindo portas às novas gerações com novas ideias e à partilha de conhecimento para novas descobertas também elas revolucionárias.  

 QUEM É JORGE MOREIRA?

Tem 51 anos, nasceu no Porto mas vive no Douro desde 2002, casado com a enóloga Olga Martins, de quem tem dois filhos. Trabalha como enólogo desde 1996. Em 2011 iniciou o seu projeto pessoal, o Poeira, e atualmente é o enólogo-chefe da Real Companhia Velha e da Quinta de La Rosa. Para além da sua atividade no Douro, também é sócio de uma empresa no Dão. Gosta de praticar desporto, viajar, passar tempo com família e amigos e de novas experiências. 

 DOURO 

Quando decidiu dedicar-se à Enologia, Jorge Moreira fez tudo o que estava ao seu alcance para ser o melhor enólogo possível, e como não há vinhos sem vinhas nem bons enólogos que não entendam as vinhas com que trabalham, mudar-se para o Douro foi uma decisão inquestionável. 

Quando questionado sobre a região do Douro, atendendo ao seu enorme carácter e diversidade, refere: “É uma região grande, muito antiga, onde se produz há séculos um dos melhores vinhos do mundo – o vinho do Porto. Tem uma enorme diversidade de castas autóctones, de relevos, exposições solares, solos e altitudes, o que nos permite fazer quase qualquer tipo de vinho com enorme qualidade e longevidade. É uma região que consegue produzir vinhos licorosos brancos e tintos, vinhos não fortificados brancos e tintos de todos os estilos, espumantes e mesmo late harvest, todos de classe mundial, o que a torna numa região realmente única. Falta conseguir fazer subir o preço médio dos nossos vinhos, para assim podermos aumentar a rentabilidade das nossas empresas, remunerarmos melhor os nossos colaboradores e melhorarmos o nível de vida de todos os habitantes da nossa região.” 

 POEIRA 

O vinho Poeira seu projeto pessoal – surge com o objetivo de construir um projeto de vida, em família, que acompanhasse todo o seu percurso profissional, permitindo-lhe a possibilidade de fazer vinhos em liberdade total, sem patrões, nem colegas, onde fosse só ele e a vinha. O que rapidamente percebeu que tal não era possível… porque fazer vinho é um trabalho de equipa onde o contributo de cada um conta para o resultado final pretendido. Conta-nos que o Poeira é o que é hoje graças ao trabalho da sua mulher, também enóloga, juntamente com todos os que trabalham na Quinta do Poeira, a maior parte há mais de 20 anos. 

Sobre o que procurou demonstrar com os seus vinhos e o ajudou a destacar-se, o enólogo explica que o mais importante em fazer grandes vinhos do Douro não é a concentração nem a estrutura, mas sim a frescura e o equilíbrio, conceitos agora quase universalmente aceites na região (o que não acontecia em 2001), tendo o enólogo contribuído para novas abordagens e exploração da enologia do Douro.  

Pedimos a Jorge Moreira que escolhesse o vinho que considera ser a sua imagem e, como esperado, a escolha recaiu sobre seus Poeira branco e tinto, pois são os que mais têm do enólogo. Acredita que esses vinhos são simultaneamente um reflexo das vinhas que lhes dão origem, mas também do seu criador. Foi sempre essa simbiose entre o homem e a natureza que o apaixonou no mundo dos vinhos. 

ENOLOGIA E VITICULTURA  

A enologia e a viticultura estão em permanente mudança. Para o enólogo, primeiramente estão completamente dependentes do clima, que tem mudado quase radicalmente nos últimos 30 anos; em segundo, também dependemde correntes estéticas, “que variam muito”, diz Jorge Moreira. No entanto considera haver um conhecimento adquirido ao longo dos tempos que permite responder com sucesso a esses desafios, e desse modo afirma que, apesar dessas constantes, “estamos bem”. Ainda partilha que nunca se conseguiu, como nos dias de hoje, equilibrar o conhecimento empírico com o científico, de forma a tirar partido do melhor dos dois mundos. E confidencia-nos: “Há, desde alguns anos, uns movimentos anti ciência que espero que não ganhem muita expressão, porque na minha opinião são um retrocesso civilizacional.” 

 FUTURO 

Olhando para trás, o enólogo não vê grandes diferenças no “Jorge” que começou e no que é hoje, pois continua com a mesma vontade de aprender e experimentar, e isso é a chave principal em qualquer carreira, não se deixar assentar no comodismo. Partilha ainda que considera que a maior parte dos homens nunca cresce verdadeiramente. Sente que precisa de dormir mais do que no passado e hoje tem uma tranquilidade que a experiência lhe trouxe, que torna a vida muito mais fácil. 

Quando questionamos os seus planos para o futuro, o enólogo conta-nos que sente que está numa fase muito interessante da sua vida profissional, os projetos onde trabalha estão numa fase madura de consolidação, o que lhe dá alguma serenidade, mas por outro lado está também numa fase de renovação, com a entrada das novas gerações. Sente uma enorme responsabilidade em partilhar o seu conhecimento com os mais jovens, como fizeram com ele no passado: “A formação de jovens é muito estimulante porque põe tudo em causa, estão cheios de ideiasnovas, é um processo muito rico e produtivo que nos está a permitir fazer enormes avanços, tanto na vinha como na adega. De resto nunca fui muito de olhar para o futuro, vivo muito o presente.” 

Como habitual para terminar a entrevista, perguntámos a Jorge Moreira que palavras gostaria de deixar ao mundo do vinho, e as suas foram: “Diria para valorizarem o que têm, mas para nunca se acomodarem, tentarem sempre aprender mais e fazer melhor.” 

 

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *