A VÍTIMA SEGUINTE DA CRISE DA ZONA EURO
As mais recentes medidas de combate à crise adotadas por Mariano Rajoy, em Espanha, são-nos profundamente familiares. Implicam, desde logo, um aumento do IVA de 18% para 21%, e da taxa reduzida que passa de 8% para 10%. Também os funcionários públicos irão ter menos dias de descanso, o subsídio de Natal será cortado este ano, enquanto que o subsídio de desemprego terá uma redução de 60% para 50% a partir do sexto mês de benefício. Para além destas medidas, haverá reformas nas administrações central e local, incluindo um corte de 30% no número de vereadores e uma redução de 600 milhões de euros no orçamento de vários ministérios. Estão previstos, ainda, aumentos de outros impostos, designadamente ao nível da eliminação da dedução do imposto pago na compra de casa, agravamento do imposto ambiental e sobre o tabaco. Tudo isto para que o seu défice orçamental desça até aos níveis previstos no Pacto de Estabilidade e Crescimento, ou seja, de 3% até 2014, sendo que estas medidas deverão implicar, no imediato, uma recessão de 2% que poderá originar um crescimento negativo e um aumento da taxa de desemprego, que neste momento se cifra no recorde europeu de 24 por cento. A pergunta que todos colocam é “como é que se chegou até aqui”? A nacionalização do Bankia, o quarto maior banco de Espanha, foi a causa próxima, sendo que o verdadeiro apuro começou realmente em 2009 com o estalar da crise imobiliária e quando o Estado espanhol intervencionou a Caja Castilha de La Mancha, a qual cometeu erros monumentais, designadamente emprestando dinheiro a promotores imobiliários de reputação duvidosa. Nessa altura, a banca espanhola já estava a esconder uma gigantesca desvalorização do imobiliário que variava entre os 25% e os 80%, conforme as zonas de Espanha.Quando por toda a Europa já se assistia o setor, Zapatero fez de conta que não se passava nada e criou o Bankia, uma mega instituição composta a partir das Cajas de Ahorro, que, durante algum tempo, conseguiu iludir o mercado, muito à custa do seu presidente Rodrigo Rato, até ter de admitir que precisava de uns largos milhões para se recapitalizar. O mesmo aconteceu também com o BFA, casa mãe do Bankia, que de lucros anunciados de 41 milhões passou, de um dia para o outro, para prejuízos de 3,3 milhões. Claro que as consequências nefastas da praxe não se fizeram esperar e o rating da Espanha e da Catalunha foram cortados dramaticamente, no caso desta última, a um passo do nível considerado lixo, sendo que os juros dispararam e os investidores fugiram, tendo o défice orçamental de 6% aumentado para cerca de 8,9%, com a União Europeia a exigir uma auditoria independente às contas dos bancos espanhóis. Em suma, a banca precisou de pedir um resgate que vai ser alavancado no FEEF – Fundo Europeu de Estabilização Financeira e depois no MEE – Mecanismo de Estabilidade Europeu, entrando em vigor em julho deste ano, mas que contará com uma supervisão firme do Banco Central Europeu. No meio deste vendaval, Portugal não poderia ficar imune, dado que aquele país é o nosso principal cliente, facto que tem sido minimizado com a diversificação das nossas exportações, embora se faça sentir com maior acuidade em indústrias como a turística. Nesta sequência de vítimas de que a Espanha é a mais recente, devido à crise da banca, das dívidas soberanas, em suma da zona euro, é, contudo, a menos negligenciável, dado que se trata de uma economia de grande dimensão. A Grécia, a Irlanda e Portugal foram desafios de concertação menores para os governos europeus. A grande resposta que ditará se a União Europeia vive ou morre é aquela que for passível de ser dada pelos Estados-membros que terão de pôr em prática, de forma inequívoca, a tão propalada solidariedade europeia.