A SAGA EUROPEIA CONTINUA, AGORA TALVEZ A ORIENTE
Neste melodrama europeu, cujo final ninguém consegue prever – nem os economistas, que se limitam a fazer a avaliação da situação, a determinar algumas soluções sem, contudo, conseguirem augurar qualquer desfecho –, os acontecimentos sucedem-se a uma velocidade vertiginosa. Desta feita foram as eleições na Grécia e a formação de um governo de coligação que, embora frágil, conseguiu unir a Nova Democracia, a formação mais votada, o Pasok e o Dimar, um pequeno partido da esquerda democrática, o que permitiu à União Europeia respirar de alívio. Isto apesar da promessa, aos eleitores gregos, de renegociação das condições impostas pela troika, designadamente em termos de alargamento de prazos para repor o equilíbrio das contas públicas, bem como das indispensáveis reformas estruturais. No meio de tudo isto rebenta o há muito esperado pedido de ajuda da Espanha, a que se evita chamar de resgate e que tem um problema de mistificação em relação às contas dos seus bancos e à real dimensão do estado das suas contas públicas. Só como exemplo menor, temos o caso do Bankia, em que o seu presidente Rodrigo Rato, ex-ministro de Aznar e pertencente à mais fina aristocracia franquista e dono de metade das Astúrias, foi demitido quando se percebeu que os 300 milhões de lucros anunciados da instituição se transformaram, após uma auditoria independente, em 2,7 milhões de prejuízos. Também o Chipre, que agora em julho assume a presidência dos Conselhos da União, foi o quinto país a pedir auxílio e necessita de recapitalização urgente, não obstante uma ajuda milionária russa no final do ano passado equivalente a 14% do PIB, mas que não se repetiu e que, por isso, agora, se vira para a União. Ou seja, por mais forte que sejam as economias dos outros países da União e da zona euro, nem o Banco Central Europeu, nem o FEEF – Fundo Europeu de Estabilização Financeira, nem o recente MEE – Mecanismo de Estabilidade Europeu terão capacidade para prover a tantas necessidades, pelo que só resta olhar para os países emergentes como os BRIC, com especial destaque para a China, considerando que, em termos de Produto Interno Bruto, este país deverá tornar-se, antes de 2020, a maior economia mundial. Presumivelmente, a União Europeia não terá liquidez suficiente para prover a tanta necessidade e terá, muito seguramente, de recorrer a quem a tenha, tendo em vista que a China já mostrou interesse nesta ajuda, sendo Portugal um exemplo da atenção investidora que este país está a demonstrar. Desde que a China voltou a assumir a soberania de Macau, esta Região Autónoma Especial rege-se agora pelo princípio de um país com dois sistemas, pois o governo de Macau possui uma grande autonomia em matéria de comércio, fiscalidade, finanças e regulamentação, bem como um sistema próprio de justiça e de economia de mercado. É também membro de organizações internacionais, como, por exemplo, a OMC – Organização Mundial do Comércio e a OMA – Organização Mundial das Alfândegas, o que, considerando as nossas raízes históricas próximas no território, implica uma vantagem competitiva em relação ao resto da Europa e mesmo do Mundo, de que urge ter consciência e retirar partido. Em suma, Portugal não deverá negligenciar este capital de experiência e de sabedoria, podendo mesmo, em próximos conselhos europeus, posicionar-se como a chave da solução com o Oriente através dessa porta de entrada que tão bem conhecemos, que é Macau.