ISABEL MEIRELLES

HOUTHIS, O GRUPOREBELDE ALIADO DO HAMAS

Os ataques terroristas de 7 de outubro de 2023 em Israel trouxeram para a ribalta do nosso quotidiano o Hamas, na Faixa de Gaza, e o Hezbollah, no Líbano. Mais recentemente, surgiram os Houthis, desconhecidos do grande público, que também combatem Israel e se opõem aos Estados Unidos, declarando-se como parte do “eixo de resistência” liderado pelo Irão.

Os Houthis são um grupo rebelde armado do Iémen, da minoria muçulmana xiita do país, os zaiditas, cuja identidade dizem querer defender. Este grupo foi formado nos anos 1990, para combater o que consideravam ser a corrupção do então presidente do Iémen, Ali Abdullah Saleh, e o nome do movimento provém do seu fundador, Houssein al Houthi.

Os Houthis iniciaram uma guerra civil que dura desde 2014, sendo que, atualmente, controlam a capital, Sanaa, e outras partes do norte e do oeste do país. Nesse ano, uma coligação militar liderada pela Arábia Saudita tomou a iniciativa de tentar restaurar, sem sucesso, o primeiro governo do país, depois de os Houthis terem tomado a capital, o que teve como consequência a morte de centenas de pessoas e o sofrimento de milhares de outras, que pereceram de fome, de doenças e de falta de serviços básicos, provocando uma grave crise humanitária no país.

A guerra no Iémen é classificada pela ONU como o mais grave desastre humanitário da atualidade, com deslocamento interno de mais de 4,5 milhões de pessoas e com 80% da população a viver na pobreza. Cerca de 11 milhões de crianças vivem numa situação desesperada e precisam de ajuda urgente, segundo as Nações Unidas.

Ataques navais

Recentemente os Houthis têm atacado navios, em solidariedade com os palestinianos de Gaza, e têm vindo a reforçar o seu arsenal bélico, com mísseis de cruzeiro, balísticos e drones de longo alcance, sempre com o apoio do Irão, responsável pelo fornecimento das milícias em todo o Médio Oriente.

Os ataques dos Houtis no mar Vermelho e no canal de Suez estão a afetar os países de quase todo o mundo e já atingiram navios de mais de 40 países, o que pode comprometer seriamente as cadeias de abastecimento e, por sua vez, fazer aumentar os custos dos produtos de consumo corrente.

Aliás, as principais transportadoras de contentores a nível mundial já começaram a evitar a região e a redirecionar as suas rotas ao longo da costa africana, o que requer mais combustível e tempo de navegação, e que terá como consequência o aumento dos preços dos produtos e serviços que dependem do transporte marítimo.

Operação Prosperty Guardian

Os Estados Unidos e o Reino Unido também se envolvera, lançando uma série de ataques aéreos e navais contra alvos houthis no Iémen, em resposta à campanha do mar Vermelho, sendo que há receios de que estes ataques possam escalar para um conflito mais amplo na região, envolvendo outras potências como a Turquia e a Rússia.

A força de intervenção intitulada Operação Prosperty Guardian reuniu aqueles dois Estados e outros aliados que têm estado a patrulhar o mar Vermelho para preservar a liberdade de navegação e a liberdade de transporte marítimo.

O Bahrein foi o único país do Médio Oriente que concordou em participar, sendo que vários outros países da região, embora dependam do comércio que passa pelo mar Vermelho, não querem estar associados aos Estados Unidos, por ser considerado o aliado mais próximo de Israel.

Estes ataques forçaram algumas das maiores companhias marítimas e petrolíferas a suspender o trânsito através de uma das rotas comerciais marítimas mais importantes do mundo, o que pode, potencialmente, causar um choque na economia global.

A complexidade dos conflitos tem vindo a adensar-se também pela intervenção de cada vez mais protagonistas, o que prejudica e torna mais difícil a paz, a segurança e o bem-estar dos países, não só na zona dos conflitos mas, acrescidamente, prejudicando uma economia mundial já altamente fragilizada.

Nunca depois da Segunda Guerra Mundial o mundo viveu uma tal complexidade geoestratégica, a que os Houthis vieram acrescentar ainda maiores dificuldades, nomeadamente na perspetiva de uma solução deste e de outros conflitos, que estão, quase sempre, indelevelmente interligados entre si.

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