
INDIGNAÇÃO COM GEOMETRIA VARIÁVEL
Ao contrário da Ucrânia ou de Israel, Nagorno-Karabakh não aparece nas notícias das televisões ou em outras cadeias de media, nem existem, regularmente, peritos com mapas geográficos a explicar a história complicada deste território.
Nagorno-Karabakh é uma região montanhosa no Cáucaso, que é reconhecida internacionalmente como parte do Azerbaijão, mas é habitada e controlada por arménios étnicos. O conflito entre os dois países remonta à era soviética, quando era uma região autónoma dentro da República Socialista Soviética do Azerbaijão.
Em 1988, os arménios declararam a intenção de se unirem à República Socialista Soviética da Arménia, o que desencadeou uma guerra que durou até 1994, quando foi assinado um cessar-fogo mediado pela Rússia.
O acordo deixou os arménios no controlo de Nagorno-Karabakh e de alguns territórios adjacentes, mas não resolveu o estatuto final da região. Desde então, houve vários surtos de violência ao longo da linha de contacto e da fronteira internacional entre a Arménia e o Azerbaijão.
TENSÕES SEM FIM
Muitos acusaram o primeiro-ministro Nikol Pashinyan de trair o povo arménio e exigiram a sua demissão, enquanto o presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, celebrou o acordo como uma vitória histórica e declarou Nagorno-Karabakh “terra azeri”. No entanto, não se pôs fim às tensões entre os dois países, que continuam a disputar o destino dos prisioneiros de guerra, a troca de corpos, a preservação do património cultural e religioso, a abertura de corredores de transporte e comunicação, e o estabelecimento de um mecanismo para a resolução pacífica dos conflitos futuros. Além disso, ambos os países acusam-se mutuamente de violar os termos do acordo e de realizar provocações militares ao longo da fronteira.
A comunidade internacional tem apelado à moderação e ao diálogo entre as partes envolvidas no conflito, bem como ao respeito pelos direitos humanos e pelo direito internacional humanitário. A União Europeia, por exemplo, tem oferecido assistência humanitária e apoio à reconstrução e ao desenvolvimento das áreas afetadas pelo conflito. A Rússia tem desempenhado um papel relevante na mediação do acordo de paz e na manutenção da estabilidade na região através das suas forças de paz. No entanto, alguns observadores têm criticado este país por não ter impedido a escalada do conflito em 2020 e por não ter protegido adequadamente os civis arménios. Outros atores internacionais, como os Estados Unidos, a França, a Turquia e o Irão, também têm interesses estratégicos na região e têm procurado influenciar o processo de paz e a resolução do conflito.
NOVO CONFLITO
A 19 de setembro deste ano estalou um novo conflito quando o Azerbaijão lançou uma operação militar contra os separatistas arménios na região de Nagorno-Karabakh. No espaço de dois dias, mais de 200 pessoas perderam a vida, entre militares e civis arménios e levou ao êxodo de cerca de 100 mil arménios, que temem serem perseguidos, uma vez que as forças do Azerbaijão estão a apertar o cerco.
O presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, disse que a ofensiva do país em Nagorno-Karabakh terminará se os separatistas arménios se renderem, e o primeiro-ministro da Arménia, Nikol Pashinyan, acusou o Azerbaijão de tentar realizar uma limpeza étnica. O conflito foi interrompido no dia 21 de setembro por um processo de mediação internacional que levou a um cessar-fogo.
A Rússia quis ter soldados no terreno para garantir este acordo de paz e segurança, mas a operação militar foi lançada sem a mínima reação destas forças. Para muitos a Rússia traiu o povo arménio. A União Europeia, por seu turno, não tinha qualquer força ou presença militar e tem sido alvo de críticas pelos seus esforços de mediação infrutíferos e por se ter abstido de sancionar o Azerbaijão. Os membros do Parlamento Europeu disseram mesmo que as tentativas de intervenção foram um fracasso total e acusaram os líderes da UE de não terem nomeado claramente quem era o agressor, ignorando os apelos da Arménia.
Em conclusão, neste paralelismo entre os conflitos da Ucrânia, Israel e arménios, questiona-se, seguramente, quais são os critérios que presidem às nossas indignações.