ISABEL MEIRELLES

ODE AOS JORNALISTAS

De todas as profissões que existem, certamente que o jornalismo é uma das mais nobres e admiráveis. O jornalismo é uma arte. O jornalista não é um mero executor de tarefas mecânicas. Não é um simples produtor de conteúdos. Não é um biscateiro de banalidades. Os jornalistas são as vozes do tempo e dos acontecimentos: pensam, recolhem, analisam, selecionam e escrevem, dão a voz e a cara.

Os jornalistas são os libertadores da humanidade, guardiães da democracia. Não há liberdade sem o “correr da vossa pena, que tende, na maioria dos casos, para a verdade, o rigor e a isenção. Realizam o chamado serviço público.

A responsabilidade dos jornalistas advém não só da função direta que cumprem, mas também dos potenciais efeitos indiretos que têm em sociedade. Basta pensar no contributo para a alfabetização, para o combate ao isolamento, para a afirmação da identidade, da cultura e da língua portuguesa.

É impossível dissociar o jornalismo, ou a comunicação social, da arquitetura constitucional dos direitos fundamentais. Estamos a reportar-nos aos três grandes pilares: a liberdade de expressão, a liberdade de informação e a liberdade de comunicação social.

Aprendemos a ler jornais, a escutar o vibrar das vozes graves ou doces da rádio ou a captar a abertura espetacular dos noticiários de TV. O mundo, tal como o conhecemos, é o resultado do saber-fazer das mulheres e dos homens que nos informam, nos esclarecem e nos salvam da mentira e da desinformação. São os jornalistas, os repórteres, os editores, os redatores, os diretores, os correspondentes, os pivôs…

Evolução no tempo

Olharmos para o tempo é imaginarmos as limitadas condições técnicas dos primeiros tipógrafos da era de Gutenberg, depois os avanços com a industrialização no século XIX, da massificação dos dispositivos técnicos e das máquinas, como as impressoras e as rotativas, até ao aparecimento da máquina de escrever, a seguir do computador, mais tarde da Internet e das redes sociais e, no presente, a Inteligência Artificial. Hoje, os jornalistas já não são só os herdeiros de Homero, Fernão Lopes e Bill Gates. São os filhos de Sam Altman e dos bots, os agentes de Inteligência Artificial.

Os jornalistas estão ainda sujeitos à vertigem do tempo, ao império da competição, à ditadura das audiências, à guilhotina das vendas. No mercado de trabalho, todos se regem pelos mesmos códigos, mas nem todos conseguem vender o número suficiente de jornais para captar publicidade.

Os jornalistas de televisão, os jornalistas de rádio, os jornalistas da imprensa escrita, os jornalistas do digital, os jornalistas das publicações generalistas, os jornalistas dos meios temáticos…

Persistem os prazos apertados, as condições físicas penosas: basta pensar na violência a que são sujeitos os repórteres de guerra ou de simples jogos de futebol, dentro e fora de campo. Às vezes um campo de futebol pode tornar-se um palco de guerra, dos gangues da clubite. Os jornalistas são vítimas colaterais dessa inusitada insanidade futebolística, mas são eles que nos levam a paixão do futebol a casa.

Regra geral, as empresas têm de gerar receitas. Isso é uma dor de cabeça para a imprensa quando as tiragens estão em queda.

Profissão exigente

Ernest Hemingway acreditava que o jornalismo era uma profissão exigente, e é. Exigia muita habilidade e muita dedicação: “O jornalismo é um ofício difícil, que requer muita coisa. Primeiro, tem de querer escrever. Depois, tem de se preocupar com a verdade. Finalmente, tem de se preocupar com a forma como a verdade é contada.”

Vivemos numa “sociedade individualista de massas”, a que se refere o sociólogo e pensador francês Dominique Wolton. É aquele modelo onde coabitam dois traços estruturais: “(…) por um lado, a valorização do indivíduo, em nome dos valores da filosofia liberal e da modernidade; por outro, a valorização do grande número, em nome da luta política a favor da igualdade.”

Estamos ainda a viver um mundo novo, com o avanço da Inteligência Artificial. Neste sentido, as redações vão sentir de forma severa o automatismo dos grandes modelos de linguagem afinados para, a partir dos GPT (Generative Pre-trained Transformer ou Grande Modelo de Linguagem), produzirem reportagens, notícias e documentários.

E virão ainda mais desigualdades, mais solidão interativa, mais racionalidade técnica, mais bolsas de desempregados qualificados…

Apesar de todas as críticas feitas a esta classe profissional, pelos motivos aduzidos, sobretudo no que concerne ao serviço público que prestam, deixo aqui a minha homenagem ao jornalismo e aos jornalistas.

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