ISABEL MEIRELLES

frontline_25_meirellesO PARADOXO POLACO

A vitória do partido de direita Lei e Justiça de Jaroslaw Kaczynski e de Beata Szydlo alcançou nas últimas legislativas a maioria absoluta com 37,6% dos votos, o que significou a conquista de 235 dos 460 lugares do Parlamento Polaco, sucesso que desde o fim do comunismo, em 1989, nenhum partido havia conseguido. Esta vitória foi tanto mais paradoxal quanto a direita liberal da Plataforma Cívica de Donald Tusk, hoje presidente do Conselho Europeu e que estava no poder há oito anos, assegurou ao país um crescimento constante mesmo durante a crise financeira de 2008 e mais recentemente na crise do euro, evitando mergulhar como outros Estados numa recessão mais ou menos profunda. O crescimento de 2014 foi de uns invejáveis 3,5% e prevê-se para este ano um crescimento de 3,6%, com um desemprego que ronda apenas os 8,6% e com um desempenho que faz empalidecer os seus parceiros europeus. E assim, a questão que se coloca é a de saber por que razão os polacos penalizaram um governo que salvou o país da tempestade e agruras europeias. É verdade que o partido Lei e Justiça, como partido populista que é, defende um aumento das ajudas sociais no valor de cerca de 14 mil milhões de euros, que compreende a descida da idade de reforma, medicamentos gratuitos a partir dos 75 anos, subsídios de parentalidade, a manutenção dos regimes especiais para juízes, procuradores e agricultores e uma economia nacionalista que está a preocupar os investidores estrangeiros, designadamente na vertente da imposição fiscal acrescida sobre bancos e empresas, maioritariamente de capitais não polacos, como certas empresas portuguesas, e a proibição estrita de aquisição de propriedades por não nacionais. Mais preocupante é a tentativa de reforço dos poderes do primeiro-ministro e do Presidente, nomeadamente deste último, de controlo da magistratura, dos media e dos serviços secretos, com completo desrespeito pelo princípio da separação de poderes. Esta lógica soberanista estende-se à União Europeia, o que implica travar mais transferência de atribuições e competências para o nível supranacional, em sintonia, quiçá em aliança, com a vizinha Hungria e mesmo o Reino Unido, dez anos apenas após a sua adesão à União Europeia, em que de parceiro atendido em Bruxelas pode passar ao pior aluno da turma comunitária. As causas podem ser facilmente encontradas nas pressões migratórias e no medo dos riscos epidemiológicos que os refugiados podem causar à Polónia, recusando, assim, juntamente com a Hungria, todo o sistema de imposição de quotas. A moral destas e de outras eleições é que esta vaga gigantesca e, aparentemente, incontrolável de imigrantes e da solidariedade europeia pode ser um detonador do medo que está a levar os europeus a apostarem em partidos de extrema-direita e soberanistas, em que o slogan poderia ser: “A Europa para os europeus!” Estas eleições polacas são um aviso não negligenciável para que as instituições europeias repensem, rapidamente, a sua política de imigração e asilo, sob pena de a vertiginosa ascensão das extremas-direitas nos Estados-membros poder fazer implodir o projeto europeu.