ISABEL MEIRELLES

meirellesHOLLANDE E O DIRETÓRIO DOS PAÍSES FUNDADORES

Todos reconhecemos que a União Económica e Monetária foi mal construída e que, por isso, urge ser reformada de molde a poder dar respostas cabais às crises que se seguem. Com efeito, ninguém acredita que a Grécia não vai ter mais sobressaltos e que nenhum outro país da zona euro vai voltar a derrapar nas contas públicas, podendo, no pior dos cenários, acabar com a conquista mais democrática e emblemática que é a moeda comum e o regresso às moedas nacionais com todas as desvantagens de que já nos esquecemos, sendo que, nestes casos, a falta de memória pode ser fatal. Só que a arquitetura da União Económica e Monetária não precisa de mais elementos de disrupção e de desentendimento, como é o caso de um diretório de países fundadores ou, numa ideia igualmente perturbadora, de um clube dentro de outro clube, como propõe François Hollande. Com efeito, ainda no rescaldo da crise, eis que o Presidente francês resolve deitar gasolina na fogueira do desentendimento europeu, com ideias que não favorecem a unidade europeia e apenas tentam desviar a atenção dos problemas domésticos da França que, como se sabe, também não goza exatamente da melhor saúde económica e financeira. Animado com o êxito de ter sido, na reta final, um dos protagonistas da solução imediata para que os gregos continuassem no euro, decidiu propor algo que para além de não ter suporte jurídico nos Tratados, viola todas as regras institucionais e de solidariedade. Com efeito, como se pode conceber, ainda que apenas circunscritos à zona euro, um novo Parlamento e uma nova Comissão, onde, ainda por cima, apenas teriam assento os países fundadores das Comunidades? Defender um orçamento europeu mais robusto e uma fiscalidade mais aproximada, de molde a que não existissem distorções de concorrência, seria, isso sim, uma excelente proposta, embora Hollande saiba que também ela está votada ao fracasso, dado que não é o momento, porque há países que não querem contribuir mais e querem manter a sua soberania fiscal, com o Reino Unido à cabeça, já a convocar um referendo para apurar se os britânicos querem continuar a transferir mais atribuições e competências para o nível supranacional. Acrescidamente, Hollande ultrapassa as instituições e não se coordena com os parceiros europeus, criando assim mais uma fonte de polémica desnecessária, qual golpe de marketing para, com prejuízo da coesão europeia, se continuar a manter, irresponsavelmente, nas luzes da ribalta.