A IRRELEVÂNCIA DA MAIORIA SILENCIOSA
Numa visão premonitória, tenho saudades daquela facilidade de deslocação com a quase ausência de controlos, que nos fazia sentir como se estivéssemos a circular apenas dentro de um único país, a simplicidade com que se cruzavam as fronteiras e a espontaneidade como nos movimentávamos dentro do nosso espaço europeu. Tudo porque neste século, de repente, nos demos conta que, em termos de segurança e defesa, ao contrário do século passado, pontuado por guerras ditas mundiais, estamos agora perante uma realidade difícil de detetar, marcada por conflitos de raiz religiosa alicerçados num fundamentalismo radical islâmico. As grandes nações que antes se digladiavam com a deslocação de exércitos bem referenciados são agora substituídas por pequenas células de poucas pessoas que, em nome do Islão, espalham o terror no Ocidente e um pouco pelo mundo inteiro. Assim, de repente, ficámos a assistir acordados a um pesadelo de carnificina incompreensível e inútil, em que se tortura, enforca, degola, viola, apedreja e assassina em nome de facciosismos religiosos. É absolutamente irrelevante que se afirme que o Islão é uma religião de paz e que a maioria dos muçulmanos é pacífica porque, neste momento, são os fanáticos que se apoderaram do Islão e que ensinam os seus filhos a matar e a tornar-se terroristas. É que a generalidade dos muçulmanos, que é seguramente tranquila e pacata, está a deixar que tudo esteja a acontecer sem reagir convincentemente aos acontecimentos. A história ensina-nos que o mesmo aconteceu com Hitler na deriva do holocausto, na Rússia comunista responsável pelo massacre de cerca de 20 milhões de pessoas ou na China comunista cujas mortes ascenderam a 70 milhões ou, ainda, pelo Japão, no Sudeste Asiático, numa orgia de matança de 12 milhões de chineses civis, tudo porque a maioria pacífica não tomou posição. Felizmente que com os recentes acontecimentos em França, o Ocidente tocou a rebate e deu demonstrações inequívocas de que queremos continuar a ser donos de nós e dos nossos costumes tolerantes e compassivos. Esta mudança de paradigma vai obrigar a muitas alterações nas nossas vidas pacatas e que têm a ver, pelo menos no Ocidente, com um modelo orwelliano onde, nomeadamente, a manutenção dos acordos de Schengen já começa a ser posta em causa e é provável que, em nome da segurança e da defesa, esta nossa liberdade possa ser limitada a prazo, ou mesmo cortada. Tudo porque, cá como lá, os amantes da paz não se podem tornar irrelevantes através do seu silêncio, porque se a maioria pacífica não toma uma posição forte e determinada, pode ser demasiado tarde, dado que, inexoravelmente, os fanáticos vão tomar conta de um modo de vida e de toda uma civilização que ficará perdida nas trevas da barbárie e do obscurantismo.